Li recentemente o livro O Fim do Estado-Nação, de 1997, do estrategista empresarial e executivo japonês Kenichi Ohmae. Frente a empresas de grande porte por décadas, ele também se destacou como escritor e essa obra traz sua teoria de que os países como o conhecemos teriam seu papel diminuido no mundo dos negócios para darem lugares às regiões. Por exemplo: uma multinacional deixaria de visar um investimento no Brasil, na Itália ou na China para observar a Grande São Paulo, a região de Milão ou Guangzhou. A principal causa dessa mudança seria a incapacidade dos lentos e engessados governos centralizados de acompanharem as cada vez mais rápidas mudanças - principalmente com o início da popularização da Internet, da mesma época em que o livro foi lançado.
Apesar do foco do livro ser a forma como as multinacionais deveriam começar a agir, seria interessante conferir o outro lado da moeda: a morosidade dos pesados governos centralizados. O autor cita como exemplos de inaptidão de trato com disparidades regionais governos como o japonês e o italiano, porém ele não chega a mencionar o colosso chamado Brasília - aliás, só cita a cidade de São Paulo quando se refere ao Brasil. Separei então um trecho sobre o peso que essas compensações feitas por um governo central causam a quem está do lado "caridoso" da tentativa de equilibrar as desigualdades. Mais ainda, mostra por que se deve pensar num federalismo verdadeiro ou até no separatismo, não como se diz que "paulista quer se separar porque não quer se misturar com o resto", mas porque assim cada região, com sua identidade, capacidades e necessidades conseguiria se desenvolver plenamente pois não teriam amarras para lhe conter ou um bolso sem fundo para lhe acomodar.
"Caso eu more em uma das três maiores cidades japonesas, esse estado de coisas rapidamente perderá sua atração. Posso ser tão sensato como meu próximo, mas é difícil enxergar por que devo continuar pagando essa espécie de conta. Acesso aos terrenos, acesso à boa vida, uma cédula de votação que conte tanto como a de meu próximo: eis o que quero - e não um imposto monstruoso para sustentar agricultores ou algum outro eleitorado marginal. Tirar dinheiro de meu bolso para apoiar tais grupos é aceitável por algum tempo em nome da justiça. Mas qual a duração desse 'algum tempo'? A lógica de faze-lo para sempre não entra em minha cabeça. Se me impingirem essa política sem explicação, se ignorarem minhas preocupações e se aumentarem a minha contribuição já desigual, começarei a questionar todo o sistema. Em termos políticos, o caminho do 'sejamos um pouco mais equitativos na distribuição da carga' para 'afinal, quem precisa desses grupos marginais?' é dolorosamente curto.
De sua parte, é claro, esses grupos pensam que recebem muito pouco, se é que recebem algo. Afinal, sua necessidade é maior e as dificuldades de suas vidas mais pronunciadas. Por que deveriam ser tratados como cidadãos de segunda classe? Ou fazem parte do Japão, ou não. Se fazem, não existe uma razão legítima pela qual deveriam ver o mínimo público ser aplicado em outras partes, mas não no próprio país, particularmente com respeito às questões de estilo de vida.
Nos velhos tempos, os cidadãos japoneses teriam reclamado. Eles eram ensinados e treinados a não contestar o que o governo dizia ou fazia, aceitando tudo sem reclamar. Atualmente, porém, a disparidade marcante na carga econômica, aliada a uma disparidade igualmente marcante no estilo de vida, começou enfim a esgarçar o velho tecido social e, com isso, aquele velho hábito da aquiescência. Isso pode soar como exagero, mas não é. Finalmente os japoneses estão aderindo ao resto da sociedade industrial formada".
Kenichi Ohmae |
No comments:
Post a Comment
comentários