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Saturday, June 21, 2014

Brasilero, brasilero...

Diziam que não teríamos Copa, diziam que a teríamos sim. Chegamos a junho de 2014 e sim, está tendo Copa. Suspeitas recaíram sobre Black Blocs e a falta de infraestrutura, principalmente quanto à capacidade dos aeroportos brasileiros, mas por enquanto apenas a Segunda Guerra Mundial conseguiu interromper a disputa de Copas do Mundo. Até agora tudo corre bem. Não há caos aéreo, casos policiais graves ou problemas nos estádios. O torneio tem boas partidas e muitas zebras já na primeira fase e uma excelente média de gols. Tudo corre muito bem, exceto por um detalhe: percebeu-se que o brasileiro não tem uma torcida à altura da tradição de sua seleção pentacampeã.

Não tenho acompanhado todos os jogos, mas vejo inúmeros elogios aos inflamados chilenos, aos argentinos por transformarem o Maracanã no Monumental de Núñez, aos onipresentes ingleses e aos alegres e dançantes africanos. E o brasileiro? Quando não está calado ele é brasileiro com muito orgulho e com muito amor. Fora disto, só se entusiasma quando canta o Hino Nacional ou quando faz votos para que sua presidente seja sodomizada. Aproveitando a deixa, registro meu pitaco sobre essa polêmica: depois de um ano em que depredações e atos de vandalismo são relativizados e tratados como um efeito colateral brando da vontade de se manifestar é compreensível que cidadãos se sintam no direito de mandar até uma chefa de estado ir tomar no rabo.

Enfim, de volta ao assunto principal do post. Algumas possíveis causas para essa anemia da torcida pululam nas discussões. As mais recorrentes são o distanciamento dum time que foi morar na Europa, escassez de partidas disputadas (meu clube joga uma ou duas vezes por semana, a Seleção joga meia dúzia de partidas por ano) e a presença exclusiva de torcedores abastados e pouco habituados a botar a bunda no concreto das arquibancadas. Acrescento também a rotatividade do time, que quando vem ao Brasil joga em Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Natal, Recife e outras capitais; posso dar um passo maior do que a perna e jogar a culpa sobre a falta dum traço marcante de identidade nacional que una paulistas, gaúchos, goianos, amazonenses e baianos. A própria Seleção serviria para isso se não fosse a efemeridade de suas aparições. Talvez exista uma zona de convergência entre elas que realmente explique a inaptidão do torcedor da Seleção. O post, no entanto, não trata da própria torcida brasileira que marca presença acanhada nos estádios.

O que me intriga - e me fez escrever estas linhas - é que isso tenha sido notado apenas agora. Seja no Brasil ou representado pelas populosas colônias brasileiras no exterior, já faz anos que o torcedor da Seleção vai ao estádio para ver (e meramente ver) o time jogar e ali se limita a cantar apenas aquela mesma música ou, no máximo, vaiar seu time quando volantes e zagueiros tocam a bola de lado por não conseguirem furar a retranca adversária. Essa percepção tardia demonstra como o torcedor, perto ou longe da Seleção, não tem familiaridade com o time canarinho ou talvez até com o futebol como um todo. Demorar tanto para se dar conta da falta de apoio e vivacidade de quem deveria torcer é sinal de cumplicidade com o raquítico modus operandi de quem vai a campo e fica preso ao “Eu sou brasileiro”. Ou seja: compartilham o leito com os mesmos sintomas em vez de apresentar um remédio.

Que a disputa das eliminatórias para a próxima Copa seja oportunidade bem aproveitada para o surgimento de gritos, músicas e bandeiras. A Geral do Grêmio já avisava: “Torcida é tradição” e exige tempo para ser (re)construída. Assim sendo, não dá para acreditar na geração espontânea e na possibilidade de que o apoio surja simplesmente porque juntaram-se suficientes camisas amarelas no mesmo recinto. Torcida é torcida e flash mob é flash mob.


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