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Tuesday, May 28, 2013

Antes, durante e depois

Já citei em algum post antigo, mas não com muitos detalhes, o fato de meu pai ser músico. Em outros tempos clarinetista e maestro, há alguns anos sua principal atividade relacionada à música se tornou a participação em eventos, festas e casamentos com seu saxofone. Outrora capitão da Polícia Militar de São Paulo, professor de música das crianças de meu antigo colégio e formador da Banda da PUC Campinas, hoje ele trabalha por conta própria ou, no máximo, conta com o apoio do tecladista Kleber Bordoni.

Nestes anos de apresentações já ouvi dele todo tipo de história: de lágrimas de felicidades e também de nostalgia. Sobre crianças encantadas pelo som do sax, algumas ideias inovadoras boas e outras ruins - como fazer um quarteto com saxofone, violino, violão e trompete - e, infelizmente, casais desfeitos pouco tempo após a cerimônia matrimonial. Escolhi, então, registar neste post três acontecimentos inusitados e relacionados a casamentos: um do período anterior ao evento, outro da cerimônia em si e outro do posterior. Claro, peguei exemplos reais pois, mesmo não sendo eles tão emocionantes ou hilários, ficarão guardados como episódios vividos pelo senhor Ernesto - e também um retrato do período pós-noção em que vivemos.

Antes
"Gente, esse som é maravilhoso!"




Fabiano toca por algumas horas numa loja de organização de eventos localizada no centro de Campinas. Apesar de não receber para isto, a recompensa desta apresentação é instantânea para todos: a loja recebe clientes, ele consegue solicitações para trabalhar em várias ocasiões e casais de noivos encontram a música ao vivo da qual necessitavam para seus enlaces matrimoniais. Muito bem, assim se passava uma manhã de sábado, com todos estes interesses se encontrando até que uma moça, emocionada, parou do lado de fora da loja e começou a observar meu pai. Com o rosto lavado por suas lágrimas, ela entra na loja e comenta:

- Adorei a música, o senhor toca muito bem! Seria uma honra se pudesse tocar no meu casamento!
- Claro, posso tocar! Quando é o casamento?
- Hoje a noite!
- Hoje?! Mas não está muito em cima da hora?
- Ai, pois é, mas é que foi tanta correria, acabei esquecendo deste detalhe, sabe?
- "Detalhe"? Tudo bem. Por sorte hoje não tenho compromisso e posso ir. Mas você em mente quais músicas gostaria que fossem usadas durante o casamento?
- Ah, podem ser as que o senhor quiser.

E assim, didaticamente, meu pai explicou quantas músicas seriam necessárias e em quais momentos, quais seriam adequadas e quais eram mais tradicionais. De noite casaram-se, tudo correu bem (conforme não foi planejado) e é melhor que eu diga que viveram felizes para sempre.

Durante
A dama de honra passou pela porta da igreja e desfilou pelo corredor central da nave. Talvez até de maneira mais graciosa do que a própria noiva, chegou ao altar arrancando comentários, sorrisos e suspiros mirins de todos os presentes. A imagem desta daminha, evidentemente, precisava ser registrada e lá foi o fotógrafo cumprir seu papel. Fotografou daqui, de lá, de acolá e toda essa série de fotos chamou a atenção do padre:

- E o que Deus... uniu... o homem... O SENHORRR ACABOU O SEU SHOWZINHO? POSSO CONTINUARRR COM MINHA CERIMÔNIA?

Pobre fotógrafo! Constrangido pelo grito e pelo olhar condenador do padre, nem teve tempo de procurar a empatia do público: correu de cabeça baixa em direção ao fundo da igreja e, como um cão assustado, só reapareceu depois de ser chamado de volta para registrar a benção das alianças.

Depois
Já encerrada a celebração dum casamento, meu pai tocava na festa posterior. Tudo correu normalmente: os noivos chegaram, muitos os cumprimentaram, foi servido o jantar, senhores e senhoras dançavam... e começaram a "brincadeira" de cortar a gravata do noivo. Eufóricos, amigos do noivo e padrinhos começam a passar pelas mesas: imploram por dinheiro, brincam com quem doa pouco e cobram bastante de quem acreditam ter muito a pagar por um pedacinho do adereço do novo marido. E assim passeiam por todas as mesas até se aproximarem da aparelhagem de som e um deles ter uma ideia brilhante no intervalo entre duas músicas.

- Agora é a vez do músico!
- O quê??
- Sim, todo mundo tem que colaborar! Quanto o senhor paga por um pedaço da gravata?
- Nada, eu estou aqui a trabalho.
- Como assim, "nada"? - o noivo já começa a puxar seu amigo.
- Eu estou tocando, quando vou tocar nem fico com dinheiro no bolso. E se você for cobrar de mim vai ter que cobrar dos garçons, dos cozinheiros...
- M-mas...
- Agora, com licença, eu tenho que tocar a próxima música.

E assim o grupo foi dispersado, sob uma chuva de notas porque não seria apropriado que meu pai distribuisse chutes nas respectivas bundas.

Mais pano do que prudência

Thursday, May 23, 2013

Charlinho

A Internet eliminou distâncias e fez com que nosso mundo, às vezes já chamado de pequeno, tornasse-se ainda menor. O comércio alcança novos continentes em alguns cliques, conhecimento é transmitido a milhares de pessoas simultaneamente e interesses conseguem unir estranhos através duma simples hashtag, dum fórum ou de grupos de discussão. Esta afinidade de gostos e hobbies, por vezes, rende mais virtualmente do que na "vida real": há alguns anos mantenho contato constante com amigos de duas comunidades do Orkut, inclusive encontrando-os pessoalmente quando possível, enquanto raramente revejo a turma de amigos da faculdade.

Através de uma destas comunidades do Orkut, a Não ao Futebol Moderno - e seu desmembramento, a Frente Nacional dos Torcedores - fiz amizade com gente de todo lado do Brasil e com todo tipo de formação: de religiões distintas ou de nenhuma delas; trotksistas, libertários, anarcocapitalista, stalinistas, anarqusitas e conservadores; gente de pouco ou muito dinheiro no bolso; torcedores duma variedade de times vasta o suficiente para organizar um campeonato de bom índice de audiência. Um desses amigos, destacado neste post, foi Charlinho.

O mineiro Tcharley Tavares da Silva arrebanhou amigos e admiradores por seu jeito de gentil ogro caipira. Num momento em que se usa tanto a Internet para se propagar uma imagem de suposta sofisticação, Charlinho nunca pretendeu ser mais do que aquele amigo fanfarrão de paixões intensas: pelo Galo e pelo futebol, pela cerveja, pelas mulheres, pelos carros antigos e pela vida simples. Este atleticano fanático, no entanto, deu um direcionamento inesperado a toda essa intensidade nesta última segunda-feira, dia 20 de maio de 2013.

Negou o mundo, a vida e qualquer possibilidade de solução para seus problemas. Antes que algo o consumisse e o perturbasse ainda mais profundamente, decidiu dar um fim a seus tormentos - e também abriu mão de todo um futuro interrompido logo aos seus vinte e quatro anos. Os motivos que o levaram a este gesto extremo, eu desconheço - e já nem são mais relevantes agora que o dano é irreversível. O que ficou, no entanto, foi a gigantesca repercussão pela morte de Charlinho.

Recebi a notícia através dum amigo ponte-pretano. Aos poucos vi paranaenses, gaúchos, baianos, mineiros, goianos, fluminenses, outros paulistas e até um sérvio lamentando este óbito. Os laços que o futebol gerou, Charlinho acidentalmente estreitou-os como um mártir após seu ato de desespero. Aquela gente de todo canto, de diferentes ou nenhuma fé, de tantos posicionamentos políticos distintos: todos se uniram para lamentar esta morte e, da maneira que fosse possível, encontrar amparo para lidar com a repentina e brutal perda - com algum depoimento, a publicação de alguma foto tirada com o amigo ou bebendo um pouco como forma de homenagem. Esta é, aliás, a lição que se pode tirar desse episódio todo: encontramos sim amizades verdadeiras e marcantes aqui na Internet, mais pela sintonia de interesses do que por convivência e proximidade. É melhor um ombro tocável ou um ouvido distante, mas atento ao que dizemos?

Enfim, o mundo perdeu um atleticano fanático, beberrão, mulherengo, boca suja, sem papas na língua e que não abaixava a cabeça para ninguém. Para não ficar só nas qualidades, apenas lamento que minha antiga simpatia pelo Galo só aumentou e agora terei a ingrata missão de torcer pelo clube alvinegro nesta Libertadores como se fosse meu próprio time em campo. Já que citei o Atlético, isso me lembra de Roberto Drummond e sua frase sobre o Atlético: "Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal durante uma tempestade,o atleticano torce contra o vento". Descanse em paz, Charlinho, daqui a gente vai tentando lidar com a sua perda, mesmo que isso seja mais difícil do que torcer contra o vento.

"Cada gole é um flash", como ele mesmo comentou

Saturday, May 4, 2013

New York

Eis a segunda parte: atravessei os Estados Unidos com meu pai no dia 25 de abril e o dia foi "perdido" devido a todo o tempo de aeroporto, avião, mudança de fuso horário e transporte do aeroporto ao hotel, então só deu tempo de dormir - inclusive porque chegamos ao quarto por volta de 1 da manhã. Na manhã seguinte passamos pela B&H, uma loja de eletrônicos com uma peculiaridade: quase todos os funcionários são judeus, inclusive com parte das vestimentas tradicionais por baixo dos coletes verdes do uniforme da loja, então creio que apenas nesse dia já vi mais hebreus do que havia visto em toda a minha vida - e duvido que verei esta mesma quantidade somando os anos em que ainda viverei. Sobre a loja, meu pai precisava dum microfone e comprou por lá, vale muito a pena para quem procura equipamento de áudio, vídeo e principalmente fotografia.

De tarde passamos na central do City Pass, um "cartão vip" para turistas terem acesso privilegiado a atrações, eventos e descontos em lojas e restaurantes. Também pegamos dois tickets dum ônibus de turismo da Gray Line que pode cortar Manhattan, o Harlem, Brooklyn e outras partes de NY de acordo com a linha - ou mais de uma linha pode ser combinada. Recomendo apenas tomar cuidado de fazer horários coincidirem, pois o cartão tem um número pré-definido de dias para ser usado enquanto os ônibus têm um certo número de horas (24 ou 48, por exemplo) de uso - então o ideal é combinar bem os dois para que falte um ou outro.

Após cuidar destas pendências partimos em direção ao Madame Tussauds, o museu de cera. É até meio perturbador ver aquelas estátuas quase humanas tão de perto, tão perfeitas e com olhares tão reais. Por outro lado, é engraçado notar como a maioria dos atores, atrizes e até atletas parecem, mas não são tão grandes como na televisão - aliás, esperava ser um hobbit entre gigantes, mas a maioria dos americanos, quando eu encontrava algum, era mais ou menos da mesma altura dos brasileiros. Sobre turistas, na "Big Apple" a maioria era formada de europeus. Para ser mais exato, franceses. Para ser mais exato ainda, francesinhas. Ok, seguindo em frente sem distrações, também vi ingleses, alemães e brasileiros. Sobre os locais, há gente com origens do mundo todo: mulçumanos, indianos, japoneses, brancos, negros e latinos, muitos latinos.

Esta foi uma das principais diferenças que notei entre os dois pontos da viagem: se na California era atendido em todos os lugares com frases em inglês, em NY bastava repararem que eu sou mais moreno para me atenderem em espanhol. Pior: em alguns lugares podia tentar falar algo em inglês e mesmo assim insistiam com um "puedo hablar español". Foi muito diferente isso, mesmo já tendo viajado à Argentina e ao Uruguai foi a primeira vez em que realmente me senti como forasteiro em algum lugar.

Na manhã do dia 27 passamos apenas de barco pela Estátua de Liberdade pois a ilha de Ellis ainda não foi reaberta - creio que devido à tempestade relativamente recente que atingiu a Costa Leste americana - e após subir de volta ao centro de Manhattan passamos pelo MET, o Metropolitan Museum of Art. É gigantesco, de repertório muito rico e com várias exibições distintas. Minhas partes prediletas foram a mostra de fotografias Street e a área de quadros impressionistas.

No domingo, uma cena inusitada: saímos do hotel logo cedo e ao chegar à 8th Avenue, tivemos que passar pelo quarteirão sem passar pois havia alguma gravação. Após sair da área restrita olhamos em direção à parafernália eletrônica e vimos que gravavam alguma cena de O Espetacular Homem-Aranha 2. A foto ficou na máquina do meu pai, mas quando fizer upload de todos as imagens para o Picasa incluo esta no álbum. Terminamos o dia com compras.

Almoçando no Rice & Beans
Recomeçamos a semana com uma atração inusitada: visitei a lanchonete que aparece em algumas transições do seriado de comédia Seinfeld. Fomos de metrô até o perto da Harlem (nos fundos do Central Park) e chegamos ao restaurante para a foto, porém apenas a fachada é a mesma e o interior nem é o exibido na série. Passamos também pela Catedral de São João Divino. Apesar de não ser religioso, tenho hábito de dar uma olhada nas igrejas das cidades que visito e essa me impressionou pelo seu tamanho: havia uma reforma a ser feita no teto e um guindaste era usado. Ao sair de lá almoçamos no restaurante brasileiro Rice & Beans, uma opção barata e saborosa para quem ficar com saudade de comer arroz e feijão. Por coincidência conversamos com o funcionário brasileiro que nos recebeu, o André, e por incrível que pareça ele era campineiro.

Saindo de lá precisei comprar tênis novos pois os que eu vestia estavam com as solas furadas e molhei meus pés com algumas poças da leve chuva que caía, então fomos parar numa lojinha chamada MASH Army and Navy, um bequinho obscuro guardado por um policial e entupido de botas, fardas, coturnos, facas, jaquetas das Forças Armadas americanas e demais materiais apropriados para aventuras na natureza - apenas não vi armas de fogo, talvez seja preciso falar alguma senha para o dono da loja. Enfim, comprei os tênis novos e voltei de pés secos para casa.

O dia e meio restantes foram divididos em pequenas compras, giros pelo hiperbólico Central Park e lanches de rua. Gostei de New York, mas confesso que não me causou o brilho nos olhos que alguns amigos têm com a cidade. Vale muito a visita, sem dúvida, mas preferi o acolhedor, pacato e bucólico (ok, façam de conta que é tão calmo assim...) interior da California. É uma cidade fascinante e encantadora, mas ao mesmo tempo de ritmo muito acelerado, impaciente e ranzinza - às vezes mais até do que na acinzentada e tão injustamente difamada São Paulo.

Perto do centro do Central Park

Friday, May 3, 2013

California

Foram meses de burocracia, viagens para São Paulo atrás da obtenção do visto, pesquisas a respeito de pontos turísticos, muitas conversas via Skype e uma dose de "paitrocínio", mas finalmente os projetos se materializaram no dia 20 no momento em que meu pai e eu embarcamos num voo para os Estados Unidos. Saímos de São Paulo rumo a Houston e de lá tínhamos conexão até a California, estado onde minha irmã tem trabalhado como au pair desde agosto.

Sofremos um imprevisto na chegada com o controle de imigração pois havia poucos atendentes a postos para receber todos os passageiros de dois grandes voos. Lição aprendida: não tente fazer dois voos num intervalo de tempo muito curto, às vezes algum imprevisto pode surgir (não necessariamente por uma falha sua) e isso pode resultar em seis horas preso num aeroporto no meio do Texas.

Ostentando, mas sem ser vulgar
Após esse atraso e outra viagem, finalmente chegamos a San Francisco e revi minha irmã, distante já há tanto tempo. Apesar desta ser a principal cidade da região da Bay Area, passamos mais tempo em cidades vizinhas menores. A região me lembrou aquela imagem tão reproduzida em filmes como, por exemplo, Beleza Americana: casas de frente aberta e sem grades ou muros, com grandes gramados, ruas amplas e muito arborizadas e criançada na rua. Talvez por serem cidades de crescimento recente, tenham crescido com mais calma e mais ordenadamente e a impressão que se passa é de ser uma terra de fartura: algumas avenidas chegam a ter cinco ou seis vias, carros são gigantescos, refeições como no Cattlemen's e no Black Bear Diner são cavalares.

Pokémon do Aquário
As cidades menores visitadas foram Pleasanton, Dublin e Livermore para conhecer a família que hospeda minha irmã e fazer algumas compras (finalmente comprei meu Kindle, a propósito); na litorânea Monterey passamos frio e aproveitamos o comércio local com direito a jantar no Bubba Gump Shrimp - sim, aquele citado no filme Forrest Gump - e passagem pelo aquário da cidade; em Napa visitamos a vinícola Del Dotto para presentear nosso pai com uma degustação de vinhos e em Carmel passamos pela praia, mas apenas brevemente porque o vento frio nos desanimou até de botar o pé na água - apenas uma guerreira solitária se dispôs a tomar sol de biquíni mesmo com os poucos graus de temperatura daquela tarde.

Fechamos a viagem em San Francisco com um tour pela cidade num ônibus de dois andares e o pior frio que senti na vida com o vento da Golden Gate Bridge. Em seguida, demos uma olhada em Chinatown, almoçamos no Pier 39, conhecemos o antigo presídio de Alcatraz (e recomendo muito esta atração) e encerramos a passagem por "San Fran" com alguns drinks no bar da cobertura dum hotel, o Mark Hopkins. Como esta já é uma cidade grande e mais antiga, tem algo mais próximo ao que também se vê nas grandes cidades daqui: um pouco de sujeira nas ruas, mendigos e/ou hippies (é difícil diferenciar) e semblantes um pouco mais fechados.

Mas friso que o estado da California tem, mesmo nessa cidade um pouco mais carrancuda, um pessoal muito acolhedor e muito atencioso, seja a população ou os comerciantes. Logo mais posto sobre a segunda metade da viagem, passada em New York e faço um comparativo dos dois lados.

Golden Gate Bridge, em San Francisco

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