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Friday, July 29, 2011

Solitários

Palavras do historiador italiano Giovanni Papini (1881 - 1956) em seu livro História de Cristo sobre a sempre incompreendida solidão - e, subentende-se, sobre o isolamento:

"Quem disse: 'ai do só!' mediu o próprio medo. A sociedade é um sacrifício, tanto mais meritório quanto mais repugnante. A solitude, para os de alma rica, é prêmio, não é expiação. É uma auto-vigília de bem certo, uma criação de beleza interna,um breve reconciliar-se com os ausentes. Somente na solidão é que vivemos com os nossos iguais, como aqueles que, sozinhos, encontraram os magnânimos pensamentos que nos consolam de outros bens deixados ... Jesus esteve entre os homens e voltará a eles porque os ama. Muitas vezes, porém, ele se esconderá para ficar só, longe também dos discípulos. Para amar os homens é preciso abandona-los de vez em quando".

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Terminei de ler recentemente Na natureza selvagem, de Jon Krakauer, livro sobre o jovem americano Chris McCandless e sua decisão de abandonar a família e uma promissora carreira para vagar sem rumo por estradas, rios e fazendas até chegar ao seu grande objetivo, o desafiador Alasca. Quando vi o excelente filme e principalmente quando li a obra não compreendi como este eremita poderia ter tamanha facilidade de se socializar e cativar quem se aproximasse. Outros andarilhos, empregadores, uma garota que se apaixonou por ele, gente que o acolheu ou simplesmente deu-lhe uma carona, todos falam de "Alex Supertramp" (o pseudônimo adotado por Chris) com admiração que beira a reverência.

A última foto de Chris McCandless
É mais fácil entender a veneração dos amigos: como não se impressionar com um personagem tão rico, tão incomum e tão ousado? Além disso, o aparente despreparo do aventureiro atraiu a atenção e o cuidado de seus conhecidos, desde um senhor que deu-lhe um teto por alguns meses e chegou a propôr uma "adoção" ao caronista do destino gélido que ofereceu o pouco que tinha em sua caminhonete: um lanche, botas impermeáveis e roupas mais pesadas. Finalmente, Alex influenciou seus aliados para que tentassem algo novo ou simplesmente procurassem vissem a vida duma nova maneira.

O lado do protagonista, no entanto, só consegui compreender (parcialmente) após ler a citação que abre este post. Por mais que eu tenha meus momentos em que busque o isolamento, não o faço com o mesmo intuito que Alex devia faze-lo: para melhor ver o homem, o valor seu e de seus gestos - ao mesmo tempo em que evitava criar amarras e até saturar-se com os inevitáveis atritos que pudessem surgir desses contatos. Acho que o solitário comum - grupo do qual faço parte - toma apenas estas medidas preventivas enquanto "os de alma rica" citados têm esta visão contemplativa de McCandless.

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Coincidentemente, comecei a reler Robinson Crusoe. Escolhi ler a obra de Defoe por já te-la lido a muitos anos e por ter comprado uma cópia a pouco tempo num sebo daqui de Campinas. Confesso que nem havia percebido a semelhança das duas narrativas - apesar de que o primeiro caso de isolamento foi opcional e o segundo, acidental. A citação ali do alto, aliás, é do prefácio - abertura que trata da obra ao mesmo tempo em que pincela ideias interessantes sobre a solidão. Agora vou rever o exílio fictício de Robinson, procurar semelhanças e influências em Alex e, caso me anime muito, escreverei um paralelo entre os dois personagens.

Wednesday, July 27, 2011

Repúdio

Não que vá mudar muito, pouco ou qualquer coisa, mas registro aqui minha indignação pela manobra feita pela Associação de Futebol da Argentina (AFA) para beneficiar o recém-rebaixado River Plate: a próxima edição do torneio nacional contará com trinta e oito clubes e, assim, nenhum dos times que caiu na última temporada terá que jogar a segunda divisão em 2011-2012. Alguns detalhes neste link.

Um grade clube como o River, tão vitorioso e apoiado por uma torcida incrível, jogou toda sua história de glórias e honras no lixo graças a uma lastimável nota de roda-pé em sua biografia. Que jogasse a B e voltasse à elite argentina pela porta da frente, isso não matou Olympique Marseillaise, Palmeiras, Racing, Botafogo, Juventus, Manchester United, Vélez Sarsfield, Milan, Grêmio, Corinthians, Arsenal, Vasco da Gama, Atlético Mineiro e Ponte Preta. No entanto, o Fluminense vai carregar para sempre esta marca de aproveitador - ironicamente, o ex-jogador que deu nome à "Lei de Gérson" encerrou sua carreira exatamente no tricolor carioca - e seus jogadores terão que, por sabe-se lá quantos anos, ouvir a cobrança dos torcedores adversários, que repetem sempre: "Pague a segundona!".

Piada de rival sobre a falta de culhão (ovos) das galinhas

Saturday, July 23, 2011

Espanhol - 50%

Na noite desta última quinta-feira o intensivo básico de espanhol chegou à sua metade com a primeira prova do módulo. O exame, composto de nove questões, foi relativamente tranquilo e acredito que ele esteja corrigido até segunda-feira. Agora teremos mais duas semanas de aula com outra prova no começo de agosto e aí acaba a maratona: no próximo estágio a frequência de aulas volta aos tradicionais dois encontros nas noites da semana ou toda uma manhã de sábado.

Por enquanto o curso está até acima das minhas expectativas: Fernando, um boliviano que vive aqui há quase vinte anos, é um bom professor e também sabe injetar ânimo na turma que nem sempre com as baterias carregadas. Os alunos, aliás, formam um bom grupo - esforçado e motivado, apesar de haver apenas cinco pessoas. Não poderiam faltar (aliás, não faltariam pois abandonaram o curso) aqueles que fazem uma ou duas aulas e desistem, mas é que melhor que saiam. Assim, se não aprendem, pelo menos não atrapalham quem ainda está interessado.

Não restou nenhum Godinez
Essa intolerância parece meio cruel, mas já tive o desgosto de me inscrever numa escola de italiano em que a turma, muito maior, era dominada por gente que só ia à aula para falar da Itália: como é a comida, como é Roma, como agem os batedores de carteira... Uma senhora (não lembro o seu nome, então vou apelida-la de Dona Apollonia) pegou carona com a filha e também começou a frequentar as aulas, mas a nossa querida Apollonia parecia uma versão feminina de Sílvio Lancelotti e até dava dicas de receitas italianas. Falava da viagem da filha, do seu pai italiano de nascença e trocava figurinhas com um casal jovem que havia conhecido Veneza - sem conseguir pronunciar nenhuma palavra em italiano, capaz que até o próprio sobrenome gerasse dúvida.

Então alguns alunos começaram a faltar e as faltas tornaram-se desistências. Os quase vinte estudantes caíram para dez e nesse ponto pedi para mudar de classe, ou seja, abri mão das aulas às 10 da manhã no sábado para estar na escola às 8 em aulas com a belíssima Hilaria (uma italiana que tinha a beleza que faltou ao seu nome). Esta sim, mais rígida e exigente, não permitia conversa furada em português. As aulas rendiam, eu estava sempre contente com o novo grupo até que aconteceu o que eu já esperava: a minha antiga turma foi fechada por falta de quorum e voltei a ser colega de classe da dona Apollonia. Depois de um ou dois meses de muito esforço e com o bolso quase vazio, desisti de lutar contra esse catenaccio linguístico e parei de estudar o idioma de gênios como Dante, Leonardo da Vinci e Baresi.

Agora a história é bem diferente e torço para que o grupo se mantenha junto após o fim do intensivo. Caso ele seja diluido em classes maiores, pelo menos saberei que ali há algumas pessoas interessadas em levar o curso a sério.

Saturday, July 16, 2011

Ponte Preta inflamante

Acabo de chegar do dérbi, o clássico campineiro entre Ponte Preta e Guarani e escreverei pouco pela exaustão que sinto e pela quantidade de emoções indescritíveis causadas pela vitória do meu time por 2 a 0. Venceu a alegria, venceu o povo, venceu a alma, venceu a esperança - que não é sempre verde. Os tentos de Ricardinho e Ricardo Jesus, a dupla de ataque alvinegra, foram acertos dentre as poucas chances criadas pela equipe, mais preocupada em administrar o resultado no segundo tempo. O adversário, em situação incômoda na tabela, deu um susto logo nos primeiros minutos com uma bola no travessão e depois chegou a marcar duas vezes: a primeira anulada graças a uma falta de ataque e, a segunda, devido a um impedimento.

A única torcida que fez festa
 A nota negativa fica para o pífio trabalho da polícia: trouxe o time visitante apenas uma hora antes do início da partida - quando a torcida local já era de alguns milhares de pessoas frente ao estádio. Objetos foram arremessados e até uma janela do ônibus foi furada por uma pedra. Como resposta, soldados avançaram contra a massa e assim começou uma correria. Depois, durante o intervalo, bugrinos atearam fogo a uma sala que fica no setor de visitantes e mais uma vez a PM se mostrou ineficaz: não conseguiu permitir que os bombeiros apagassem o fogo e agiram com excesso de força, com um torcedor atingido por uma bala de borracha em sua jugular - enquanto escrevo este post ele é operado num hospital da cidade.

A janela quebrada

Enfim, fica aqui um brevíssimo relato do que foi o dérbi. Para quem quiser uma matéria sobre a partida, tem uma boa AQUI - inclusive com vídeos dos gols e do incêndio. As inúmeras lágrimas dos dois lados, os abraços e a euforia são óbvias e parte de qualquer grande partida de futebol, então não é possível descreve-las para quem não gosta do esporte e qualquer descrição é desnecessária para quem gosta.

P.s.: esqueci de citar que grande parte da imprensa campineira fez coro para atacar Raul, o locutor dos jogos da Ponte que fez uma ou outra piada durante o intervalo - e o culpam pelos incidentes da torcida adversária, que teria se irritado com as provocações. Ora, então uma provocação - mesmo que inconsequente, reconheço - dá direito para que se aja agressivamente e que se destrua o patrimônio alheio? Além disso, é notório que a torcida do GFC sempre depredou seu espaço no Moisés Lucarelli, com ou sem provocações que motivassem esses atos. Deixo então expresso meu repúdio ao linchamento que praticam e meu apoio a esse grande motivador e "showman" dos intervalos.

Saturday, July 9, 2011

Cambiando

"Foi bom enquanto durou". Esse clichê das despedidas e encerramentos de fases marcantes é ambígua para o momento que vivo, em que vou parar de frequentar uma academia. Não é bom ficar levantando pesos, ter os braços travados a cada troca de treino, correr risco constante de lesão causada pelo exercício ou por algum "azar" como deixar um peso cair no pé, fora todos os obstáculos como genética desfavorável, frio, preguiça... 

No entanto, os resultados sim fazem bem após um certo tempo. Demorei um ano e pouco, mas consegui perder mais de vinte quilos e isso traz consequências para a saúde e principalmente para a auto-estima. Assim como gostamos mais do que vemos no espelho, uma silhueta mais fina também gera mais simpatia e a diferença de tratamento é nítida. Mas enfim, após dois anos e meio de luta contra a gravidade em academias, terei que me adaptar a uma nova rotina que exige mais disciplina.

Graças a um curso intensivo de espanhol que começo nesta segunda-feira com aulas de segunda a sexta-feira das 19 às 21:30 horas, não terei tempo para treinar durante o mês de julho. Até pensei em frequentar a Training cedo, antes do expediente, mas sei que não renderia e nem seria tão dedicado quanto deveria. Então a saída foi comprar uma barra para porta e, assim, continuar exercitando a musculatura sem sair de casa - perto do sofá, do videogame, da cama, da internet... mas eu acredito na minha força de vontade e acredito que vou conseguir evitar o sedentarismo.

Pois é...
Sobre o curso de espanhol, estudei um pouco no ginásio e no ensino médio porque as aulas faziam parte da grade, mas na época não tinha o menor interesso pelo idioma. Confesso que a viagem à Argentina ajudou um pouco a "bater o martelo" e me inscrever no curso, mas já vislumbrava essa possibilidade desde o ano passado. Hoje é duplamente vantajoso estuda-lo, já que uniria o aprendizado dum idioma que passei a achar interessante a um investimento no meu currículo. 

Não só isso, é bom evitar a estagnação: olho ao meu redor e vejo amigos fazendo planos e mudanças de toda espécie, de especializações e pós-graduações a cirurgias bariátricas e até emigração para outros países. Claro, não dá para usar os outros como medida para autocrítica ou me jogar em qualquer "aventura" para não parecer estar parado, mas a sensação de marasmo é extremamente desagradável. Enquanto não dou grandes passos, volto a caminhar devagar - assim como aqueles primeiros de academia no começo de 2009.

Monday, July 4, 2011

Mais links

Ultimamente a linha editorial do blog tem sido alterada, principalmente por falta de pautas, já que não há muito mais para se falar sobre adaptação à vida morando sozinho e minha carreira entrou num platô que deve durar até o fim do ano. Aliás, cabe o registro da entrada do novo gerente, um bom líder que foi além do ponto-comum do "todo mundo tem que saber fazer tudo" - um clichê gerencial que seria o equivalente dum candidato a qualquer emprego que diz ser ótimo para trabalhos em equipe - ao planejar essa integração de conhecimentos de maneira sensata e plausível.
Enfim, já que não tenho muito meu para acrescentar, deixo aqui dois links de blogs de música - um que achei por acaso e outro dum amigo. O primeiro é o Muro do Classic Rock e seu conteúdo, claro, é formado por discos de dinossauros conhecidos e outros nem tanto. Aliás, a quantidade de bandas de rock, blues e até um ou outro nome maior do heavy metal impressiona e vale a visita.
Outro blog já foi listado aqui, mas discretamente: o ABC Terror do amigo juventino Vinícius Malavita. Apesar de relativamente novo, já conta com um bom acervo de música extrema e acredito que alguns dos discos disponíveis sejam inéditos em sites e blogs brasileiros. Bandas renomadas (dentro do estilo) como D.R.I., Accept e Suicidal Tendencies estão presentes, mas é bem mais fácil encontrar raridades, grupos novos e até demos de alguns veteranos. Excelente link para quem gosta principalmente de hardcore, thrash metal, grind e crossover.

Blunt Force Trauma: ótima surpresa

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