Geralmente o período de fim de temporada é recheado de especulações no futebol: reforços e "reforços" chegam aos clubes, contratos de patrocínio são anunciados, dirigentes aproveitam promessas eternas para abafar crises e por aí vai. No entanto, duas notícias mais alarmantes pipocaram nos corredores do estádio Moisés Lucarelli após a Série B de 2010: a possibilidade de venda do terreno do Majestoso, tradicional palco construído pela própria torcida há décadas e a possibilidade de Eduardo Uram, empresário, se tornar um nome forte na construção do elenco.
Primeiro a "cancha": a construção duma arena já não é novidade e é discutida desde que se começou a falar em Copa do Mundo no Brasil. No entanto, a torcida foi surpreendida pois a construção, usada algumas vezes para desviar o foco dos fracassos do clube nas temporadas passadas, tornou-se iminente com anúncio do acordo - tratado silenciosamente e só tornado público em pleno andamento.
A construtora Gafisa, principal interessada na compra, teria que esperar até o novo local de jogos ser erguido para ter a posse do terreno. Aí, é claro, entra a parte assustadora: o risco de demolição para que condomínios residenciais tomem o lugar do lar da Ponte Preta, local batizado em homenagem a um ex-presidente (este, tão humilde que precisou ser "traído" enquanto viajava pelo exterior pois não aceitava a honraria).
Highbury, antigo estádio do Arsenal, em seus últimos suspiros |
Dentro das quatro linhas, o boato que surgiu foi o contato com Eduardo Uram, empresário de jogadores que já serviu ao Flamengo e atualmente é o principal "fornecedor" do Figueirense - clube que alcançou neste ano o acesso à Série A. Detentor de bons nomes - AQUI - e a credencial de ajudar um clube de médio porte a chegar à elite do futebol tornam a possibilidade de acordo algo tentador, porém não consigo evitar ressalvas e pensar na hora em que o pacto não for mais interessante para Uram. Todo o seu grupo de "uranianos" poderia sair numa debandada, deixando a Macaca esfacelada e com um elenco em frangalhos.
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A Ponte Preta, clube centenário, mostra que já não é mais um bastião de resistência do tradicionalismo no futebol paulista. A impressão é que o clube parou em frente a uma bifurcação: pode escolher o rumo da resistência e do apego a seus valores, seu estádio e sua integridade. No entanto, faltam dirigentes competentes para manter um nível competitivo desta forma. Considerando como o clube cai de rendimento ano após ano, é mais fácil Carnielli transformar a Nega Veia num XV de Piracicaba do que botar ordem na casa.
Resta então a opção da modernização, da adequação aos rumos que o futebol mundial tomou. No entanto, mãos inaptas que poderiam fazer muito mais pela Ponte Preta correm sério risco de transformar o clube num Barueri ou num São Caetano da vida, com dois ou três anos de sucesso servindo de prenúncio a vários anos de catástrofe. Pior: o desespero da torcida é tão grande que os dois eventos que citei acima são acatados e até aguardados com uma certa ansiedade por parte dos torcedores (muitos relutam quanto ao estádio, mas a entrada de empresários e seus jogadores é de aceitação quase unânime).
A falta dum título de expressão, a formação de elencos apáticos e os últimos anos passados na Série B desanimaram o torcedor. A média de público, antes respeitável, caiu a níveis ridículos e a torcida se limitou a ter "os três mil de sempre". Essa má fase, criada após anos de incompetência e erros, pode transformar um antigo celeiro de revelações em um mero balcão de venda de jogadores.
Claro que essas mudanças podem trazer bons frutos, principalmente a formação dum time de aluguel, mas agora é necessário um ato desesperado para compensar os erros cometidos outrora. Torço apenas para que quem apoia tudo isto - imprensa, dirigentes e torcedores - tenham decência de assumirem sua postura daqui uns anos, caso um elenco mirrado tenha que lutar para fugir do rebaixamento enquanto bugrinos vivem sobre as ruínas do Moisés Lucarelli.
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