Já escrevi sobre muitos assuntos nestes quase trezentos posts do blog. Comecei com as aventuras dum rapaz que começaria a morar sozinho, já fiz muitos posts sobre futebol, alguns sobre livros e cinema, outros sobre política e economia, mas dificilmente exponho conteúdo pessoal aqui. Fiquei em dúvida sobre escrever ou não este post, mas achei justo deixar algumas linhas sobre meu retorno à Igreja Católica. Contar sobre um retorno, no entanto, significa começar uma história pelo final, então voltemos ao início dela.
Quando criança eu acreditava muito em Deus, apesar de achar entediante a missa que minha família frequentava no Parque Industrial - e quantas broncas levei por não querer ficar quieto. Mais tarde, durante o começo da adolescência, ainda acreditava e rezava, apesar de não frequentar nenhuma igreja. A ruptura aconteceu quando tive problemas em casa: minha mãe lutava contra o câncer enquanto minha avó já havia sido dominada pelo Mal de Alzheimer.
Rezei muito para que elas fossem salvas, mas o que pedi tão intensamente não foi realizado. Foi um erro de como depositar minha confiança: em vez de pedir por mais força para passarmos por aquele momento, pedi dois milagres. É como a menina deste vídeo abaixo, que poderia evitar sua queda, mas procurou apoio da forma errada. E cito George MacDonald: "Se Deus não apenas ouvisse nossas preces, como ele sempre faz, mas as respondesse como as queremos respondidas, ele não seria Deus nosso salvador, mas o gênio assistente de nossa destruição".
Por isso me afastei, mas pouco. O melhor era ter me afastado muito, assim eu teria evitado de sentir ressentimento e rancor. Repetia todos aqueles lugares comuns de adolescente revoltado, via todo padre como um
Com o passar do tempo minha inquietação adolescente foi embora e comecei a ver também as contibuições positivas do cristianismo à humanidade: a piedade, o valor à vida, o voluntariado, o trabalho de missionários, a caridade, a construção de hospitais e universidades, a influência sobre grandes obras das artes (literatura, artes plásticas, música) e até na ciência. É até curioso que desocupados militantes gays, ateus e feministas organizem "beijaços", mostrem peitos murchos, desbatismo e façam outras macaquices para protestar contra a intolerância da Igreja - protestos possíveis apenas em sociedades construídas sobre o cristianismo. Não lembro de nada disso acontecendo em Teerã, por exemplo.
Então mudei um pouco minha posição em relação à Igreja. Ainda não havia me reaproximado dela, mas me afastei do grupo dos que a veem apenas como um antro de inquisidores beligerantes. O tratamento era de respeito e de reverência, mas apenas como uma formalidade dum velho conhecido. Mas o que fez com que eu voltasse?
A volta começou com o Conclave, quando toda a esfera progressista se retorcia, babava e urrava de ódio diante das notícias da escolha do substituto de Bento XVI. Se aquela corja propagadora de falsas boas intenções, sede de vingança e desonestidade intelectual sentia tanto rancor por uma instituição, como dito por eles, já moribunda, então aquela instituição ainda estava muito viva - e fazia algo que eu consideraria certo para ser tão desagradável aos "pogrecistas". Não é muito bonito assumir que voltei à igreja com esse pensamento de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo, mas foi como aconteceu e eu não seria completamente honesto se contasse outra história aqui.
O papa consegue torcer para o único grande argentino sem título da Libertadores. Acreditar em Deus é mais fácil |
Tenho então frequentado a igreja do Carmo, no centro de Campinas, desde maio (apenas o post pega carona na visita do papa). Mesmo que uma missa seja curta e ocupe apenas uma hora da minha semana, é o suficiente para conseguir encontrar um pouco de paz, beleza e ordem em meio ao caos urbano. Além desse conforto e tranquilidade transmitidos pela igreja, uma época de inversão de valores e exaltação de personagens imorais, figuras como Deus, Jesus e os santos parecem ser as que podem mais seguramente ser usadas como inspiração e exemplo de comportamento. O último principal motivo é o anulamento da insignificância que se sente ao viver numa grande cidade: entre arranha-céus e numa massa de anônimos, o cristão se sente muito maior por fazer parte duma instituição de dois milênios, compartilhada com um terço dos habitantes da Terra e com sua fé baseada num deus onipotente, onipresente e onisciente.
Este retorno, no entanto, não muda tão drasticamente minha vida. Não pregarei para amigos ateus, não serei o chato que atribui todo sucesso e fracasso pessoal a Deus, não discutirei com pessoas que acreditam em Maomé, Shiva, Lúcifer ou no Monstro do Espaguete Voador. Já nem faço questão de encontrar o que desagrada aos progressistas, conforme falei pouco acima. Tentarei apenas agir da maneira mais cristã. Como disse São Francisco de Assis: "Cuida da tua vida, ela pode ser o único Evangelho que teu irmão lerá".
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