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Monday, July 8, 2013

Latindo

Meu cachorro, conhecido formalmente como Henrique China, porém não batizado de acordo com as regras do sacramento da Igreja Católica e por isso conhecido apenas como "China", acorda desnorteado. Levanta-se, caminha cambaleante até seu potinho de ração. Come, volta a deitar-se e não consegue dormir novamente. Volta ao quintal, mastiga o que resta dum chinelo velho meu e faz cocô atrás duma bananeira. Volta para dentro, morde a barra de minha calça e começa a puxá-la - esta é sua forma de mostrar que quer passear.

Pego a guia, prendo-a à coleira do meu amigo e vamos passear. O pobre China, coitado, já não é mais um filhote e mal posso dizer que esteja em sua melhor forma. De porte médio e pelos pretos e longos, tem seus primeiros pelos grisalhos no focinho. Os dentes ainda estão bem conservados, mas não arrisco mais usar um pano para brincar de cabo de guerra com ele. Ele manca um pouco desde que brigou com outro cachorro nos fundos dum bar e levou uma dentada de seu desafeto, o Fred, por isso hoje não consegue correr tanto ou simplesmente já não se impressione com mais nada e por isso não tenha mais pressa.

Caminhamos até a esquina. No caminho ele fareja algo aqui, ali e acolá. Para numa árvore, suspeita de algo, mas considera aquele farejado xixi irrelevante e seguimos em frente. Ele come um pouco de grama e, claro, vomita no caminho de volta para casa. Entramos, ele volta a dormir e acorda quando sente o cheiro do almoço. Após soltar alguns ganidos na porta da cozinha ele ganha um pedaço de carne quente, tenta comê-la sem sucesso e engole o naco todo numa dentada só depois que ele esfria. China ainda aguarda ao pé da mesa e, quando terminamos de almoçar, ele ganha um pratinho com nossos restos: algumas colheres de arroz, um pouco de feijão, uns pedaços de carne e até uma batata.

O "perro" devora sua refeição e deita sobre o capacho da porta dos fundos. Solta dois peidos enquanto dorme e, no terceiro, se assusta com o barulho e acorda. O cão do inferno se levanta, atravessa a casa e foge pela porta aberta. Cheira o lixo do vizinho e não encontra nada de agradável. Fareja algo interessante, um fogo consome seu ventre e acelera o passo: há uma fêmea por perto! China encontra seu alvo, uma cadelinha tão vira-lata quanto ele. Ela dorme sob a sombra duma árvore e é acordada por um nariz curioso. Ela se levanta, responde à curiosidade dele com suas próprias cafungadas e simpatiza com aquele desconhecido cão. O interesse é mútuo e, sem muita cerimônia, ele a domina: ali, na calçada onde algumas pessoas passam, o casal canino se entrega ao desejo....... Satisfeitos, eles partem cada um em uma direção: ela rumo a algum local coberto e ele, de volta à sua casa.

E por enquanto chega. Se continuar nessa narrativa monótona de alimentação, sexo casual, necessidades fisiológicas, filosofia de boteco e eventos insignificantes vou acabar escrevendo um romance do Bukowski.

China e parte da obra de Bukowski

1 comment:

  1. hahahahahahahaha ! Interessante. Gostei Lu. Já te falei hoje, que sou sua fã nº 1 ?

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