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Tuesday, July 16, 2013

Dois machos, nenhum homem

Texto do The American Spectator traduzido para o português pelo Felipe Moura a respeito do caso Zimmerman-Martin. É uma abordagem diferente e trata dum aspecto cuja abordagem eu ainda não havia visto: a falta de hombridade dos dois envolvidos, tanto o adolescente metido a durão quanto o marmanjo afoito quando ameaçado.

Dois machos, nenhum homem
Escrito por Daniel J. Flynn, traduzido por Felipe Moura Brasil

Não se fazem mais homens como antigamente. Pode-se consultar um estudo dinamarquês que mostra a forte queda dos níveis de testosterona para a confirmação científica disso. Ou se pode mais facilmente assistir à cobertura completa de qualquer emissora de TV a cabo do caso Zimmerman-Martin, uma tragédia envolvendo dois homens tateando no escuro sobre como ser homens.

Do que quer que os protagonistas possam ser culpados, eles certamente são inocentes de serem homens. As seis mulheres que compõem o júri, muita embora não incumbidas de chegar a um veredicto sobre a masculinidade dos personagens centrais, todavia sabem a verdade sobre isso mais do que os demais observadores do julgamento. As venusianas conhecem os marcianos melhor do que elas mesmas se conhecem. E vice-versa – o que elas sabem de cromossomos x que só cromossomos x sabem?

Na contagem da maturidade, Trayvon Martin pode razoavelmente alegar inocência em razão da cronologia. Meninos de dezessete anos de idade muitas vezes agem como, na linguagem de Zimmerman, “punks f...dos”. A maioria se liberta disso quando cresce, mas o sr. Martin, infelizmente, não vai ter essa chance. Raramente, apesar da postura masculina exagerada deles, há adolescentes que se comportam como homens maduros.

O Twitter de Martin é como uma paródia de gramática pobre, com um vocabulário ainda mais empobrecido. Lá, ele é um "crioulo sem limite", as meninas que ele conhece são "putas" e "vadias", e a atividade extracurricular primária a que ele se dedica é a maconha. O sorriso com dente de ouro, as tatuagens, a suspensão de dez dias da escola e todo o resto parecem tentativas patéticas de afirmar sua virilidade. No entanto, como seus defensores apontam, Trayvon também gostava de balas Skittles e do Chuck E. Cheese. A apresentação que Trayvon afetou e o Trayvon que os seus defensores apresentam estão, como tantos que fazem a viagem da adolescência para a idade adulta, em guerra interna.

George Zimmerman, em contraste, projeta no tribunal uma imagem de gordinho pacato que não iria (não poderia?) fazer mal a uma mosca - e não da maneira Norman Bates. Talvez esse seja o efeito que seus advogados tenham pretendido. Mas isso entra em conflito com o que nós sabemos dele. De acordo com uma testemunha não identificada, Zimmerman sofreu espancamentos frequentes de uma mãe dominadora e teve um pai dócil que falhou em defender seus filhos. Seu instrutor de MMA descreveu-o como "fisicamente molenga", um estudante que não tinha capacidade atlética e "não sabia como dar um soco realmente eficaz".

Alguém perguntaria se as aulas de luta na jaula, a busca de uma carreira na aplicação da lei e uma arma de fogo mantida pronta para ser disparada eram as maneiras de Zimmerman descobrir sua masculinidade indefinida de uma forma semelhante à das tatuagens de Trayvon, de sua linguagem vulgar e de seu uso manifesto de drogas. Com o adolescente sem um pai em casa para servir como guia, e o líder vigilante do bairro que cresceu assistindo ao líder acovardado de sua casa, o passado da dupla alterou o seu futuro tanto quanto qualquer outra coisa.

Os gritos de Zimmerman e Trayvon batendo a cabeça de Zimmerman no chão não foram atos de homens. Um homem não é nem uma mulher, nem um animal. A resposta adequada a uma agressão de um adolescente de 71 quilos não é gritar por socorro nem pegar uma arma. É revidar com um soco ou, melhor ainda, subjugá-lo e lhe dar uma surra. Da mesma forma, um soco inesperado, as pancadas repetidas em um adversário caído e as batidas de um crânio contra o chão tampouco fazem jus às regras do Marquês de Queensberry [a base do boxe moderno]. Talvez a academia de "No Holds Barred Combate" [tipo de luta sem desqualificação nem contagem] em que Zimmerman se inscreveu aprovasse isso.

Suas famílias não tinham modelos masculinos fortes; a sociedade deles, menos ainda. Quatro em cada dez crianças americanas entram no mundo sem seu pai casado com sua mãe. Quando estudantes começam a apresentar características naturais ao seu sexo, esses rapazes cheios de energia são punidos com prisão e Ritalina. Qualquer jogo de maior contato - do queimado ao futebol - está sob ataque. O horário nobre da TV celebra os “almofadinhas” e retrata os pais como uns palhaços (vide Homer, de “Os Simpsons”, e Raymond, da sitcom “Everybody Loves Raymond”). Empregos que requerem as características físicas com as quais os machos são favorecidos foram terceirizados para robôs ou estrangeiros. Quando um comentarista perguntou "Os homens são necessários?" alguns anos atrás, aquilo refletiu a escassez ao invés da superficialidade desse artigo genuíno.

Civilizar os homens para fora da existência tem custado muito caro à civilização. Em vez de homens, obtemos imitações femininas carentes de beleza. Obtemos meninos perdidos que, por compensação, tornam-se bárbaros. Obtemos Sanford, Flórida, 26 de fevereiro de 2012.

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