Já citei em algum post antigo, mas não com muitos detalhes, o fato de meu pai ser músico. Em outros tempos clarinetista e maestro, há alguns anos sua principal atividade relacionada à música se tornou a participação em eventos, festas e casamentos com seu saxofone. Outrora capitão da Polícia Militar de São Paulo, professor de música das crianças de meu antigo colégio e formador da Banda da PUC Campinas, hoje ele trabalha por conta própria ou, no máximo, conta com o apoio do tecladista Kleber Bordoni.
Nestes anos de apresentações já ouvi dele todo tipo de história: de lágrimas de felicidades e também de nostalgia. Sobre crianças encantadas pelo som do sax, algumas ideias inovadoras boas e outras ruins - como fazer um quarteto com saxofone, violino, violão e trompete - e, infelizmente, casais desfeitos pouco tempo após a cerimônia matrimonial. Escolhi, então, registar neste post três acontecimentos inusitados e relacionados a casamentos: um do período anterior ao evento, outro da cerimônia em si e outro do posterior. Claro, peguei exemplos reais pois, mesmo não sendo eles tão emocionantes ou hilários, ficarão guardados como episódios vividos pelo senhor Ernesto - e também um retrato do período pós-noção em que vivemos.
Fabiano toca por algumas horas numa loja de organização de eventos localizada no centro de Campinas. Apesar de não receber para isto, a recompensa desta apresentação é instantânea para todos: a loja recebe clientes, ele consegue solicitações para trabalhar em várias ocasiões e casais de noivos encontram a música ao vivo da qual necessitavam para seus enlaces matrimoniais. Muito bem, assim se passava uma manhã de sábado, com todos estes interesses se encontrando até que uma moça, emocionada, parou do lado de fora da loja e começou a observar meu pai. Com o rosto lavado por suas lágrimas, ela entra na loja e comenta:
- Adorei a música, o senhor toca muito bem! Seria uma honra se pudesse tocar no meu casamento!
- Claro, posso tocar! Quando é o casamento?
- Claro, posso tocar! Quando é o casamento?
- Hoje a noite!
- Hoje?! Mas não está muito em cima da hora?
- Ai, pois é, mas é que foi tanta correria, acabei esquecendo deste detalhe, sabe?
- "Detalhe"? Tudo bem. Por sorte hoje não tenho compromisso e posso ir. Mas você em mente quais músicas gostaria que fossem usadas durante o casamento?
- Ah, podem ser as que o senhor quiser.
E assim, didaticamente, meu pai explicou quantas músicas seriam necessárias e em quais momentos, quais seriam adequadas e quais eram mais tradicionais. De noite casaram-se, tudo correu bem (conforme não foi planejado) e é melhor que eu diga que viveram felizes para sempre.
Durante
A dama de honra passou pela porta da igreja e desfilou pelo corredor central da nave. Talvez até de maneira mais graciosa do que a própria noiva, chegou ao altar arrancando comentários, sorrisos e suspiros mirins de todos os presentes. A imagem desta daminha, evidentemente, precisava ser registrada e lá foi o fotógrafo cumprir seu papel. Fotografou daqui, de lá, de acolá e toda essa série de fotos chamou a atenção do padre:
- E o que Deus... uniu... o homem... O SENHORRR ACABOU O SEU SHOWZINHO? POSSO CONTINUARRR COM MINHA CERIMÔNIA?
Pobre fotógrafo! Constrangido pelo grito e pelo olhar condenador do padre, nem teve tempo de procurar a empatia do público: correu de cabeça baixa em direção ao fundo da igreja e, como um cão assustado, só reapareceu depois de ser chamado de volta para registrar a benção das alianças.
- E o que Deus... uniu... o homem... O SENHORRR ACABOU O SEU SHOWZINHO? POSSO CONTINUARRR COM MINHA CERIMÔNIA?
Pobre fotógrafo! Constrangido pelo grito e pelo olhar condenador do padre, nem teve tempo de procurar a empatia do público: correu de cabeça baixa em direção ao fundo da igreja e, como um cão assustado, só reapareceu depois de ser chamado de volta para registrar a benção das alianças.
Depois
Já encerrada a celebração dum casamento, meu pai tocava na festa posterior. Tudo correu normalmente: os noivos chegaram, muitos os cumprimentaram, foi servido o jantar, senhores e senhoras dançavam... e começaram a "brincadeira" de cortar a gravata do noivo. Eufóricos, amigos do noivo e padrinhos começam a passar pelas mesas: imploram por dinheiro, brincam com quem doa pouco e cobram bastante de quem acreditam ter muito a pagar por um pedacinho do adereço do novo marido. E assim passeiam por todas as mesas até se aproximarem da aparelhagem de som e um deles ter uma ideia brilhante no intervalo entre duas músicas.
- Agora é a vez do músico!
- O quê??
- Sim, todo mundo tem que colaborar! Quanto o senhor paga por um pedaço da gravata?
- Nada, eu estou aqui a trabalho.
- Como assim, "nada"? - o noivo já começa a puxar seu amigo.
- Eu estou tocando, quando vou tocar nem fico com dinheiro no bolso. E se você for cobrar de mim vai ter que cobrar dos garçons, dos cozinheiros...
- M-mas...
- Agora, com licença, eu tenho que tocar a próxima música.
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