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Monday, August 2, 2010

Democracia

Na última quinta-feira de julho, dia 29, participei da primeira reunião de condôminos da minha vida. Como nunca morei em prédio, a impressão que eu tinha desses encontros era a de discussões caóticas, trocas de acusações e empurrões sem fim - provavelmente algo que peguei vendo a classe média desenhada pela Globo. Hora que saí do elevador, no entanto, já tive certeza de que não passaria por nada daquilo.

Dos quarenta e oito donos de apartamentos, menos de uma dezena de proprietários apareceu: seis ou sete "vovós" moradoras, um casal de locatários (também de idade avançada), duas mulheres na casa dos quarenta (uma delas, a síndica) e eu, reduzindo muito pouco a média de idade.

Donas Filomena e Chiquinha

Após um pouco de alvoroço causado pela tagarelice das senhoras, a reunião teve início e foi conduzida por um rapaz que trabalha na empresa administradora das contas do edifício. Contas prestadas, tudo em ordem, seguimos em frente, mas estranhei que todo o pessoal começou a perguntar sobre um caso antigo de inadimplência (por que tanta preocupação com alguém que não paga o condomínio desde 2001?).

Segundo tópico: eleição de síndico. Márcia, a síndica atual, sabia que ninguém estava disposto a assumir esse desafio (vulgo "bucha") e, entre gargalhadas e risos, disse que aceitaria um novo mandato, desde que contasse com a aclamação dos condôminos. Como a aceitação era unânime, a atual administradora aceitou mais dois anos de mandato. A preocupação geral, novamente, foi a do homem do 12 e seus eternos meses de contas atrasadas. Aí já notei que havia algo muito errado com esse personagem.

Após algumas sugestões, milhares de interrupções sem sentido e conversa paralela suficiente para me levar de volta aos anos do primário, finalmente chegou o último e tão aguardado bloco: a discussão de assuntos gerais, quando se definiria a situação em volta do vizinho do 12. A polêmica é que, como eu disse, esse senhor devia contas de condomínio desde quando o World Trade Center era só um ponto comercial. "Devia", pois ele morreu na última terça-feira e deixou, como parte da sua herança, uma dívida de cerca de R$ 14.000,00 ao edifício.

A problemática vai além do lado monetário: o primo deste homem, que sempre frequentou o prédio e que inclusive me levou a pensar que ele também era morador, agora foi proibido de entrar até na portaria. O imóvel, agora lacrado, não pode ter nenhuma visita e qualquer aproximação pode ser encarada como invasão de domicílio, permitindo até uma ligação para a polícia. Mais: surgiu uma irmã que nunca foi vista por aqui e que talvez seja a herdeira do imóvel (e de suas dívidas).

Enfim, essa novela ainda está em aberto e bem longe de terminar. Por enquanto, o clima entre o primo e os porteiros já ficou pesado, a dívida sobrevive firme e forte e as velhinhas vão ter muito para fofocar - e eu, para escrever aqui, caso falte algo melhor para postar. De resto, a situação está indefinida e ainda deve se arrastar por uns bons anos.

2 comments:

  1. entao nao sei se sabe mas vc acaba pagando um pouco a mais por causa dos devedores fdp.

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  2. suspeitei que houvesse algo assim mesmo. pior que o quarto também tá fechado, ou seja, um a menos pra rachar a conta

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