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Monday, January 4, 2016

Inexorabilidade

"Você não está ficando careca?". Foi com essa pergunta da minha irmã, há quase dez anos, que confirmei: aquele redemoinho no alto de minha cabeça não era um amassado crônico ou um motim de meus cachos. Era algo definitivo e cujo desenvolvimento eu não poderia impedir. Ok, talvez eu pudesse buscar algum tratamento ou até apelar para um vergonhoso combover, mas sempre acho mais honesto e digno aceitar a calvície de cabeça erguida e cara ao sol. Aos poucos aquele pontinho amadureceu e encontrou-se com as entradas vindas da testa, completando "a volta da pracinha", como disse João Gordo em algum de seus programas na MTV. E por volta do fim de 2016 comecei a raspar a cabeça, ainda com o pente 2, mais tarde o 1 e finalmente o 0, quando eu já tinha a máquina e passei a raspar meus próprios cabelos com a ajuda de espelhos.

Sean Connery com um gorrinho conveniente
Os primeiros anos não chegaram a ser problemáticos, mas houve algum problema para que eu aceitasse aquela calvície tão prematura. Não me incomodava ficar calvo, mas que isso acontecesse por volta de meus 22 anos de idade. Levou algum tempo até eu achar isso algo menos trágico: a superação veio com a ajuda (involuntária e inconsciente) de outros jovens calvos, entre eles o ilustre Sean Connery, ator já bastante maduro com quem compartilho o dia de aniversário e a calvície precoce. Antes de qualquer acusação de favoritismo ou falta de imparcialidade, saiba toda a internet que o escocês já era meu intérprete favorito de James Bond muito antes que eu soubesse dessas curiosidades. Também gosto do trabalho dele em Os Intocáveis, Indiana Jones e a Última Cruzada, Caçada ao Outubro Vermelho, Até os Deuses Erram, O Nome da Rosa, A Colina dos Homens Perdidos... Acho que já deu para deixar isso bem claro e posso encerrar a encheção de linguiça.

Enquanto numa frente eu recuava, em outra havia avanço. Ainda me lembro das piadas sobre ter bebido leite com Toddy para debochar dum rascunho de bigode que nascia lá por volta de 1997 ou do dia em que um fio (no singular) de barba nasceu na bochecha, um pouco destacado do couro cabeludo. Era ridículo, mas era o que havia à minha disposição. Os fios vagarosamente ocuparam espaço no queixo, o que me levou a arriscar um estilo a la Dimebag Darrell e, mesmo sem a pintura, isso foi motivo de zoação constante na minha vida, como diria um sábio fluminense.

E assim seguiu a evolução nos últimos 17, 18 anos: um fio virou um rabicho, mais tarde podado e por anos ocultado para retornar mais tarde, sumir novamente e dar lugar a uma barba, ainda que não tão cerrada, esta podada também e mantida baixa por quase todo o último ano com a mesma maquininha que uso para raspar o que resta de meus cabelos. Agora entro em 2016 em férias do trabalho e novamente ensaio deixar a barba crescer. Contando os dias em que não a raspei no ano passado, são mais ou menos trinta dias para que ela mostre a que veio. No começo do ano passado o visual foi testado não me agradou tanto, mas talvez agora a barba fique melhor por estar mais cerrada e com menos falhas. Além da maior concentração dos pelos, outra novidade são alguns fios brancos que despontam e se destacam em meu queixo e até no bigode.

SK8
Somando a infantilização dos adultos de minha geração (vide foto ao lado) ao prolongamento da expectativa de vida e aos casamentos e geração de filhos cada vez mais tardios, não sei em que proporção cabelos brancos e até rugas são indicadores de amadurecimento ou apenas do passar dos anos. Já escrevi em 2012, antes de completar 30 anos de idade, sobre as primeiras rugas que apareciam em meu rosto e, como previsto no post, elas se aprofundaram um pouco no decorrer destes anos.

Outras previsões corretas: mais virei velho do que envelheci, fiquei mais rabugento e passei a evitar saídas que já se anunciam antecipadamente como roubadas - embora eu tenha me tornado mais honesto e agora os recuse de forma direta, sem desculpas ou artifícios. Arruinei um relacionamento poucos meses depois do post graças ao meu comportamento desconfiado e receoso, mas com ele aprendi a entregar meu coração novamente. Meus votos eram de "percorrer com tranquilidade a estrada sem paradas do tempo" e agora que o faço, sou corroído pelo tédio. As rugas eram causadas principalmente sorrisos, agora preciso que meu rosto seja marcado por rugas de tempos mais conturbados ou até mesmo por cicatrizes.

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