São alguns meses de atraso e nem iria escrever sobre o tema, mas como o blog precisava ser atualizado resolvi registrar aqui algumas linhas sobre a discussão a respeito da exigência do diploma de curso de Jornalismo para que se exerça esta profissão. Essa é a minha área de formação, porém creio que virei uma ovelha negra entre alguns colegas por ter me posicionado contra a decisão do Senado. Já havia demonstrado meu ponto de vista sobre o assunto em um ou outro debate no Facebook, mas é melhor fazer algo mais elaborado e permanente.
O principal argumento dos defensores desta decisão, é claro, baseia-se no preparo obtido nas faculdades. As aulas teóricas e práticas fariam do estudante um jornalista preparado para o mercado de trabalho, para as redações e para os veículos de comunicação. Alguém "de fora", sem diploma e sem a experiência que se obtém no decorrer dos quatro anos de curso não teria o mesmo know-how dum diplomado, mas cito uma situação que testemunhei bem de perto.
Durante os anos que fiz esse curso não houve nenhum ensinamento transmitido sobre jornalismo esportivo. NENHUM. Houve um dia em que um professor de rádio simulou a cobertura duma partida de futebol em classe, com alguns alunos chutando uma bola de papel e outros no lugar dos jornalistas: narrador, comentarista, repórteres de campo, ouvintes. Essa simulação, muito semelhante a uma brincadeira realizada em algum churrasco qualquer por amigos que já tenham assistido pelo menos uma transmissão televisiva na vida, foi o que mais se assemelhou a uma aula de jornalismo esportivo numa das faculdades mais tradicionais do estado. Apesar disso, bons jornalistas esportivos saíram da PUC Campinas, inclusive da minha turma. Não porque tiveram aulas sobre a história do futebol da cidade ou porque professores tenham ensinado por horas a fio análises táticas, formas de avaliar jogadores ou como funcionam os bastidores do esporte. Todo este conteúdo o jornalista desenvolveu por ter interesse nessa área e porque pesquisou, leu, se informou e acumulou conhecimento. E se esse aprendizado feito por conta própria permite que alguém escreva com propriedade sobre esporte, por que isso não pode se estender a outras áreas?
Alguém que se interesse, por exemplo, por economia, ciência ou cultura e que conheça estes temas profundamente pode escrever matérias com muito mais acuracidade e profundidade do que um jornalista posto frente ao teclado apenas para preencher uma vaga. "Mas e se o jornalista se interessar por esses temas?", podem perguntar. Então ele simplesmente poderia descartar este protecionismo e não deveria se preocupar em competir com alguém que não é jornalista formado, pois conhece a forma e o conteúdo. Assuntos relevantes como História da Arte, Economia e até a língua portuguesa são vistos às vezes apressadamente* e o aluno recebe apenas uma pincelada de temas tão importantes, portanto o ensino na faculdade não se aprofunda tanto no conteúdo e prende-se à forma, mesmo sendo esta adquirível por emulação.
Essa medida protecionista visa então blindar os jornalistas e garantir a manutenção de seus empregos enquanto o Jornalismo pode deixar de receber matérias mais bem escritas por gente com embasamento mais profundo. Aos colegas que defendem esta reserva de mercado por acreditarem que o diploma seja uma garantia de preparo completo para a ativade jornalística, deixo uma pergunta: o que achariam se a mesma medida fosse tomada para que se restringisse a atividade de assessor de imprensa apenas a quem tem diploma do curso de Relações Públicas?
Parafraseando Castelo Branco: "Se é eficiente, não precisa de monopólio. Se precisa, não o merece" |
* Tive aulas de Português no primeiro semestre, porém a professora sofria de hérnia de disco e raramente conseguia comparecer para lecionar. Como não tínhamos professora subsituta, minha turma praticamente se formou sem estas aulas. (Perdão pelo momento Diário de Classe).
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