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Saturday, November 5, 2011

Dez anos

Domingo passado, pela manhã, fui ao Majestoso encontrar uns amigos juventinos e assistir Red Bull 2 x 1 Juventus. Essa partida e o encontro com o pessoal valem uma postagem mais para a frente, o que escrevo agora é sobre o que aconteceu no caminho até o estádio. Ali nas redondezas fica o Colégio Pio XII, claramente uma escola católica e pertencente à PUC de Campinas. Numa sala ali dentro, há cerca de dez anos, prestei vestibular para o curso de jornalismo da universidade campineira.

A prova ocorreu nos últimos dias de novembro e o resultado saiu em 13 de dezembro, quando eu estava em São Bento Abade, uma cidade de cinco mil habitantes do sul de Minas, para participar do casamento de um primo. Após nem sei quantas ligações para Campinas, consegui descobrir com parentes que havia sido aprovado. Comemoramos moderadamente já que este passeio não foi dos mais agradáveis e na volta corri com meu pai para fazer a matrícula no ginásio com centenas de outros "bixos".

Era legal conhecer aquele mundo novo, com tanta gente diferente, ainda mais porque saí dum terceiro ano com quinze pessoas e comecei a faculdade numa classe de noventa. Havia o pessoal saindo do ensino médio assim como eu, a turma dos vinte e poucos anos, os mais maduros como o Dr. Marcelo Aguirre, apelidado apenas de "Doutor" - um dentista que estudava Jornalismo por hobby. Havia os maconheiros, as patricinhas, os cults, os agitadores políticos (maconheiros com camisetas do Che), o pessoal do futebol, as CDF's... e a minha turma. 

Ainda nos primeiros dias o professor de expressão corporal (vulgo "aula de teatro") Paulo Afonso juntou a classe em grupinhos para as atividades do resto do semestre e caí com a galera que não se encaixava em lugar algum. Talvez era exatamente essa a característica do grupo, ser uma espécie de sessão "outros" da classe. E assim, Lígia, Thiago, Leonardo, Carlos, Juliana, Daiane, Regiane, Maurício e eu fizemos várias atividades e encerramos o semestre com uma apresentação assim como os outros grupos, mas acho que estávamos num nível A Praça é Nossa de atuação. Se ganhamos mais olhares de condolência do que aplausos, pelo menos as amizades valeram a pena.

Aula de fotografia, acho que em 2004


A equipe do teatro manteve-se unida nos intervalos e os integrantes faziam trabalhos juntos. A visita à redação da Playboy, o primeiro boneco duma revista, os churrascos em Americana, as inúmeras idas à Padoca, o bar que frequentávamos toda semana graças à professora de Português - ela sofria de hérnia de disco e não tinha uma substituta (o jornalismo brasileiro "agradesse") - e várias outras lembranças nasceram no decorrer de 2002 e 2003. Assim foi até que aquele grupo começou a se desmembrar, com cada integrante numa turma nova e eu, de carona com o vascaíno Maurício Vargas, tornei-me parte do "pessoal do Bolão".

O tal pessoal do bolão era a LUB, Liga Universitária de Bolão. Sempre no fundo da classe e nas mesas de cantina para discutir os resultados da rodada, as transferências de atletas, algum lance polêmico, alguma nova camisa de algum clube qualquer, arbitragens, hinos de clubes, chuteiras... o ápice foi a disputa de uma partida de Stop com campos relacionados ao futebol. E assim Márcio, Aoki, Doutor, Zé, Carlão, Giacomeli, Cervantes, Thiago, Maurício e eu passamos os últimos anos do curso.

Foi uma mudança gritante para alguém que passou anos sem ver uma partida de futebol e hoje tem carteirinha de sócio-torcedor dum clube, além de já ter viajado até outro estado para ver uma partida quase perdida de Copa do Brasil. Quando meu gosto por futebol atrofiou nos anos 90, nem me imaginava voltando a assistir uma partida inteira, mas aos poucos aquela turma que não mudava de assunto me transmitiu de volta o vício pelo esporte. Esses nove amigos viraram outras dezenas através de comunidades do Orkut: gente do Rio Grande do Sul a Pernambuco, passando por Minas, Paraná, Rio de Janeiro... não só as amizades, mas também a capacidade de faze-las, já que eu era muito tímido e inibido há dez anos. Hoje ainda não sou extrovertido como um Rodrigo Faro (bom, melhor nem ser mesmo), mas já melhorei muito em relação ao cara que começou a faculdade se escondendo pelos cantos e evitando contato com todos a custa de muitas divisões da classe em turmas menores, cada vez com colegas diferentes e muitas gravações de áudio e vídeo.

"Você joga no São Paulo?". Por algum tempo essa piada não fazia sentido para mim

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