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Monday, February 14, 2011

Lead role in a cage

Limpar a gaiola da hamster Bolacha é uma tarefa um pouco ingrata, já que semanalmente passo pelo trabalho de coloca-la em sua bolinha, separar um pouco de serragem limpa para reutilização (assim ela não estranha a gaiola nova), jogar fora o restante, passar água fervente com sabão em pó, enxaguar, passar um pouco de álcool, mais água quente e então colocar a serragem nova, reorganizar as partes como bebedouro, prato e casinha e devolver a moradora ao seu lar.

No entanto, desta vez, reparei como parte da dificuldade vem da própria beneficiada, que não ajuda ou até atrapalha por não entender o que acontece ao seu redor. Mas também, imagine receber um objeto desconhecido, entrar nele e ser solto num mundo em que tudo é novo e tentador. A cada vez em que ela resolve correr com a bola para cima de algum ralo, preciso parar tudo para resgata-la (e isso só atrasa mais a limpeza). Essa pausa se repete também quando ela fica presa em algum canto ou quando desaparece, já que preciso ver se ela ainda está na bola ou se a tampa se soltou - nesse caso, alerta vermelho. E, assim como ela não sabe da minha intenção, não sei se estou cortando o barato dela.

Porém, numa das vezes em que fui tirar a roedora do perigo, lembrei duma frase do elefante Horton e pensei: "no meu mundo, sou apenas uma pessoa normal. Porém, para a Bolacha, eu sou um colosso". É uma metáfora  sobre religião feita no filme do simpático paquiderme, em que um ser menor e muito frágil é protegido por um ser descomunal que não pode ser visto e foge à compreensão do protegido.

Em perigo? Deixar cair ou amparar
Pois bem: minha protegida sabe que existo pois conhece meu cheiro, minha voz e minha mão, mas não sei se ela consegue somar as três partes em apenas uma. Além disso, providencio comida, água, limpeza, proteção, carinho e até entretenimento. No entanto, todo domingo a noite é uma repetição do acesso de fúria da pequena, que não entende que toda a faxina na gaiola é feita para o próprio bem dela. É numa escala muito menor uma prévia do que será não deixar: uma criança ganhar um presente no shopping e aturar um eventual escândalo, um filho ficar de bobeira depois da escola ou a filha de doze anos ir a uma festinha na casa dum amigo. 

Claro, com doze anos uma criança (sim, ainda se é criança com essa idade), por mais que já tenha juntado todos os componentes e criado uma impressão sobre seu pai, ainda não reuniu todas as facetas do tutor e não consegue compreender seu trabalho, ainda mais quando há lados em questão que estão muito longe da compreensão do pequeno - principalmente o campo profissional. Olhando para trás e nem tão longe, consigo ver que já fui o hamster que tenta roer os limites da gaiola para se livrar do que era melhor para ele - porém, quem nunca foi?

Além disso, imagino que a maior dificuldade da paternidade será a perda da capacidade de me colocar no lugar dum filho, ainda mais com todas as inseguranças típicas da adolescência - como faze-lo acreditar que o cabelo dele não é estranho ou que tal  parte do seu corpo não tem nada de errado? Enfim, acho que não resta muita opção além de puxar de perto do ralo filhos e hamsters mesmo que eles esperneiem, xinguem e reclamem - ou que eu interrompa a diversão inofensiva deles, quando faltar diálogo.

1 comment:

  1. É, acho que faz parte,srsr... Aí quem sabe a gente entenda os nossos próprios pais....

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