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Thursday, December 31, 2015

Cinco filmes - 2015

Mais um ano acaba e novamente decidi listar cinco dos filmes dos quais mais gostei neste período. Minha meta era de 50 no ano, mas pude supera-la bem e cheguei a 84, mesmo com o tempo investido em estudos e trabalho nestes últimos meses. Houve um pouco de tudo, como animações (Divertida Mente não entre na lista, mas vale a recomendação), drama, ação, romance e até musicais, além de uma ou outra série – aqui cabe uma salva de palmas a The Sopranos, que só vi agora e que valeu cada cena de cada episódio.

Algo que me ajudou um pouco foi o uso de algumas listinhas temáticas que mantenho numa planilha de Excel. São listas curtas, de até dez filmes cada e dividas por temas: listas por ator ou atriz, direção, algum tema em comum, indicados ao Oscar, entre outros. Aliás, sobre temas em comum, comecei a seguir uma página de cinema no Facebook, a Taste of Cinema, que divulga sempre listas. Às vezes algumas delas são esdrúxulas ou cujos critérios não são muito respeitados, mas dali já colhi boas recomendações.

Ok, acho que já enrolei o suficiente, então vamos aos meus filmes favoritos do ano.

Um Violinista no Telhado (Fiddler on the Roof, 1971)
Pois é: há um musical na lista. A história, apresentada muitas e muitas vezes na Broadway antes de virar filme, começa com uma apresentação de Anatevka, um vilarejo de judeus localizado nas regiões rurais da Rússia, nos primeiros anos do século XX. A apresentação é feita por Tevye (interpretado pelo cantor Topol), patriarca que explica como a vila judia respeita tradições antigas e cada integrante seu tem um papel bem definido como pais, as mães, filhos, rabino, casamenteira. 

Tevye acrescenta que o povo judeu conseguiu manter relativas coesão e unidade através de tantos séculos - e apesar da diáspora - porque há esse apego às tradições, embora vivamos num mundo onde a mudança é o único evento de ocorrência constante e garantida. E daí ele cria a analogia que dá nome ao filme, pois manter vivos seus costumes através dum turbilhão de mudanças seria como “tentar arriscar uma canção simples e bela sem quebrar o pescoço”.

Logo após esta apresentação, no entanto, o tradicionalismo de Tevye já é posto a prova quando a mais velha de suas cinco filhas, Tzeitel (Rosalind Harris), tem seu casamento arranjado com o já maduro (quando digo “maduro”, me refiro a um homem já de barbas brancas) açougueiro da vila, Lazar Wolf (Paul Mann) e a moça recusa o acordo feito pelo pai porque ela prefere se casar com o jovem, mas pobre alfaiate Mótel (Leonard Frey). Adicionalmente, as duas outras filhas em idade de casar também escolhem seus companheiros sem a intermediação da casamenteira, uma delas inclusive se apaixonando por um rapaz russo - e não-judeu. Fora de casa, Tevye também convive com um rapaz socialista revolucionário e com o crescente antissemitismo vindo das comunidades russas vizinhas. E ainda assim, no decorrer do filme, ele busca assimilar as mudanças enquanto se prende às suas tradições, embalado pela excelente trilha sonora adaptada por John Williams.



Paris, Texas (1984)
Travis Henderson (Harry Dean Stanton) começa o filme vagando por um deserto no sul texano, local onde passou os últimos quatro anos de sua vida. Dali sai e é atendido por um médico, que localiza o irmão de Travis para que eles se reencontrem. Walt Henderson (Dean Stockwell) encontra-se com Travis e tenta leva-lo de volta a Los Angeles de avião, mas o andarilho não aceita viajar desta maneira e obriga a volta a ser feita de carro, atravessando alguns estados com Travis ainda em choque e incapaz de falar qualquer coisa por boa parte do caminho.

O tema central do filme são reencontros. De Travis consigo mesmo, com a sociedade, com seu irmão, com a família de seu irmão, com seu filho, agora adotado por Walt; e finalmente com sua mulher Jane (Natassja Kinski). É um filme um pouco difícil de descrever sem entregar a história, que começa a se desenrolar devagar e revela seus ingredientes de forma que envolve e prende o espectador. Em vez de uma foto, compartilho uma cena em que Travis passa por um homem que prega do alto duma ponte. O vídeo não tem legendas e o que é dito nem é lá tão relevante, o que importa mais é a forma como o protagonista se encontra com outro pária e sente alguma empatia por ele, como é visto pelo tapinha nas costas dado quando se “despedem”.



Ran (1985)
Já não lembro exatamente quando foi, se já em 2015 ou ainda em 2014, mas vi este vídeo feito por um estudante de cinema a respeito do trabalho do diretor japonês Akira Kurosawa. Ele trata principalmente sobre a forma como o diretor usa elementos secundários, como a chuva e figurantes, para dar movimento às suas cenas. Depois de ver o vídeo busquei alguns trabalhos dele: Rashomon, Yojimbo - O Guarda-costas, O Idiota e o último filme que vi dele, Ran (“Caos”, em português). O filme, criticado no Japão por tratar a narrativa de maneira mais ocidentalizada, é uma produção épica franco-japonesa inspirada em Rei Lear, de Shakespeare.

A história conta sobre a família de Hidetora (Tatsuya Nakadai), um senhor da guerra já consumido pela velhice. Ele decide, após uma caçada, dividir seus territórios entre os três filhos: Taro Ichimonji (Akira Terao), o primogênito e novo cabeça da família; Jiro Ichimonji (Jinpachi Nezu) e o caçula Saburo Ichimonji (Daisuke Ryu). O filho mais novo tenta alertar a seu pai que a medida é precipitada, mas o pai insiste em mante-la. Saburo avisa que algo pode influenciar os irmãos e que sua união pode ser desfeita, mas o pai não o leva em consideração. Pior: Saburo é deserdado e expulso dos territórios da família.

Depois de contar como o filho excluído foi aceito por outra família da qual faria parte graças a um casamento arranjado, Kurosawa retorna aos dois irmãos e a Hidetora. Como previsto, surgem conflitos entre o patriarca e seu filho mais velho Taro devido às disputas entre os dois sobre quem efetivamente comandava o palácio e as terras da família. Jiro também é procurado por seu pai, mas não o acolhe por se sentir desfavorecido pela escolha de seu irmão para assumir o papel de novo líder. Humilhado e enlouquecido, o velho começa a vagar pelos campos enquanto seus dois filhos mais velhos entram em guerra e um dos conselheiros que manteve fidelidade a Hidetora busca Saburo para uma possível reconciliação.

Ainda que visualmente seja deslumbrante, esta é uma obra brutal, violenta e crua em sua narrativa. Kurosawa narra uma disputa irrefreada pelo poder, sem espaço para piedade ou sequer gentilezas entre seus partícipes – ao contrário de um filme sobre a máfia italiana, por exemplo, onde se mantêm aquelas relações amistosas e dúbias com inimigos mortais.



O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball, 2011)
Relutei por algum tempo para assistir esse filme por uma razão muito razoável: não consigo gostar de baseball e o acho um dos esportes mais insossos a ocupar as grades de programação dos canais esportivos. Pior: cada temporada é imensa e por meses a ESPN transmite aquelas horas de marmanjos mascando fumo, coçando o saco e fazendo pose para lançar a bola, que não deve ser atingida pelo batedor. Mas enfim, o post é para falar bem deste filme baseado em fatos reais e não mal do esporte.

Moneyball começa no fim da temporada de 2001, quando os Oakland A’s são eliminados da liga nacional. Billy Beane (Brad Pitt), gerente geral do time, perde seus principais jogadores e ainda tem a difícil missão de reformular o time com um orçamento bastante apertado. Seus conselheiros também não lhe ajudam, indicando contratações baseadas em critérios pouco ortodoxos: um atleta é rejeitado porque sua esposa é feia e isso seria um indício de baixa auto-estima, em um dos casos.

Billy sai então em busca de empréstimos de jogadores em outros times e na sede de um deles, o Cleveland Indians, encontra Peter Brand (Jonah Hill). Peter, um rapaz tímido e aparentemente não tão importante dentro do time do qual é funcionário, revela-se uma autoridade na reunião entre Billy e os dirigentes do Indians quando aponta quais atletas podem ou não ser emprestados. Na saída da reunião Billy procura Peter, pergunta qual é sua formação e quais critérios usa para tomar suas decisões quanto ao elenco. Peter explica que é formado em Economia e se baseia em extensas análises de estatísticas de vários atletas. Dias depois ele é convidado a trabalhar no time californiano e lá começa a implementar sua forma de trabalho. Há alguns obstáculos, questionamentos e derrotas no começo da disputa da liga, mas o time passa por ajustes e alcança uma sequência de vitórias que inspirou outras associações e reformulou a maneira como o baseball era administrado nos Estados Unidos.



A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty, 2013)
Este foi um dos últimos filmes que vi no ano, no domingo logo após o Natal. Ironicamente, eu o baixei faz tempo e porque ele estava numa lista de filmes do ator Sean Penn, que aparece numa participação discreta, de menos de cinco minutos. Ele interpreta o xará Sean O’Connell, um premiado fotógrafo da revista Life. Seu papel na história é enviar negativos de fotos para que o protagonista, o daydreamer Walter Mitty (Ben Stiller) os revele e as imagens sejam usadas na revista.

O filme começa com o envio dum rolo de negativos em que a foto de número 25, destacada por Sean como uma foto que pode ser a capa da próxima edição, não está no material recebido. Walter não consegue encontra-la, assim como não encontra o fotógrafo, que percorre o mundo desarmado de celular e redes sociais. Além da foto não encontrada, Mitty também precisa lidar com o risco de demissão causado pela mudança de formato da publicação, que passaria do meio impresso ao online e causaria uma redução drástica no número de funcionários.

Walter começa então sua busca pelo negativo com algumas informações colhidas em outras fotos do negativo e com algum apoio de Cheryl (Kristen Wiig), sua colega de Life Magazine e flerte. A busca cresce, sai dos três andares da empresa e cruza continentes para que o polêmico negativo 25 seja encontrado. De certa forma Walter Mitty me lembrou de Forrest Gump: são dois homens absolutamente comuns levados a protagonizar epopeias ainda que tivessem perfis improváveis para serem protagonistas de grandes aventuras.


Saturday, December 12, 2015

Retrospectiva - 2015

Já é passado um terço de dezembro e, convenhamos, já se pode considerar o ano como encerrado – e por isso publico minha retrospectiva de 2015. Foi um ano pacato, como já antecipado num post anterior, mas aqui desenho uma linha do tempo dos poucos acontecimentos deste período de estudos e desenvolvimento pessoal.

Depois dum mês de janeiro de pouco trabalho (apenas para lembrar, trabalho como suporte dum time de vendedores de serviços de software), em fevereiro tive vinte dias de férias. Fiz uma viagem curta, na qual passei por São Paulo, São José dos Campos e Maranduba. Revi bons amigos que não via havia muito tempo e, no caso de uma pessoa, que eu talvez nunca mais a reveja depois de sua emigração. No período restante das férias também foi quando busquei a pós-graduação, com o início das aulas em março.

É uma pós-graduação em Administração. Até quem estudou esta área brinca que ADM é para quem não sabe o que quer da vida e, bom... este senso de direção nunca foi meu ponto forte mesmo – vide o nome do blog. Porém, como jornalista cujo diploma adorna tão bem a última gaveta duma cômoda e cuja vida profissional foi toda passada dentro duma empresa de TI, esse curso veio muito a calhar. Nele encontrei gente de toda área, como: Nutrição, Engenharia química, Farmácia, Educação Física, Publicidade e Propaganda; todos dispostos a formalizar e aprofundar os conhecimentos desta área na qual já desempenhavam alguma função. E embora não mantenha pretensões de ocupar um cargo de liderança, tenho amadurecido muito com disciplinas como Marketing Empresarial, Contabilidade, Matemática Financeira, Produção e Serviços, além de Liderança.

Paralelamente à pós-graduação, permaneci com as aulas de russo. Durante quase todo o ano realizei encontros semanais com meu professor através do Skype, já que ele passa meses em Moscou para concluir seus estudos em música e retorno ao Brasil apenas no meio do ano para passar as férias. O curso vai bem, embora eu ache que minha capacidade poderia ser melhor após um ano e pouco de aulas. E essa defasagem é inteiramente culpa minha, devido à minha falta de iniciativa de praticar e ler além dos exercícios e atividades em aula. Enfim, dou um passo atrás para dizer o porquê das aulas, já que nunca as expliquei aqui.

Letra cursiva ou rabisco? Apenas rabisco (acho)
Em algum momento de 2014 li um post dum blogueiro que lamentava não poder obter informações vindas diretamente de Moscou, cada vez um player mais atuante no cenário geopolítico global depois de tantos anos depois do fim da União Soviética, devido à barreira do idioma. Havia a imprensa ocidental e a russa, porém nenhuma é lá cem por cento digna de confiança irrestrita. E como buscar, ler e compreender as opiniões expostas em blogs, vídeos, fóruns e redes sociais, como o VKontakte ou o “nosso” Facebook? Inspirado por esse questionamento, com o qual me deparei justamente quando pensava em estudar um novo idioma, busquei um professor particular de russo e deixei de lado o plano de estudar alemão.

No aspecto profissional o ano não foi lá muito agitado também. Passei por uma reestruturação de equipe e graças a ela quase todos os colegas com quem eu trabalhava em janeiro foram espalhados pela empresa e passei a trabalhar com cerca de vinte de pessoas que eu pouco ou sequer conhecia. E, surpreendentemente, hoje tenho melhor relacionamento com esse pessoal do que com muitos dos antigos colegas. Quanto ao apoio a vendas mencionado anteriormente, aqui surgiu um problema quando vendedores passaram a centralizar suas atividades em pessoas localizadas no próprio México em vez de buscar meu time. É uma queda abrupta de volume de trabalho e tenho realizado outras tarefas, como cuidar de acessos a sistemas e do inventário de máquinas para me manter necessário, porém já prevejo que o ano de 2016 será de mudanças, provavelmente de tarefa ou talvez de time.

Pessoal da IBM reunido no Outback. Na época o cavanhaque fez com que me chamasse de "Vadinho" por uns dias
O campo afetivo foi, talvez, o mais estático de 2015. Terminei 2014 num momento de fim dum namoro e não é possível simplesmente se esquecer duma pessoa, mas administrar as lembranças, como bem narrado no filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças, um dos que entrará na minha lista dos meus preferidos no ano – eu já o havia visto antes, mas logo mais explico direito porque ele entra na lista mesmo tão tarde. Então, entre um novo encontro aqui e outro ali, com direito a um “causo” absurdo e surreal, a principal tarefa do ano foi “exorcizar” as lembranças de Eloísa de alguns lugares que ela ocupou. Não tínhamos um acervo cultural em comum extenso, então ela não chegou a ocupar músicas, filmes nem livros. Seu rastro permaneceu nos lugares que visitamos, nos momentos que compartilhamos e nos amigos que esporadicamente ainda me perguntam o que aconteceu com o namoro.

Um dos últimos rastros com o qual tive de lidar foi uma camisa social, presente que recebi de meu pai depois de muita insistência dele – ele queria porque queria me dar de presente de Natal uma camisa duma marca cara e eu acabei cedendo nos últimos dias de novembro de 2014, na véspera da separação. A camisa, de finas listras brancas e rosadas com detalhes azuis no interior do colarinho e do punho, é linda e foi elogiada por nem sei exatamente quantas pessoas nos dois dias em que a vesti para trabalhar, mas me levou pouco mais de um ano para conseguir tirá-la do armário.


Em suma, 2015 se assemelha a 2013, ano em que também adotei a introspecção e precisei me isolar um pouco para trabalhar algumas questões pessoais e internas. Naquele ano precisei buscar meu verdadeiro eu (se é que realmente conseguimos essa identificação) e aceitei quem eu realmente era e os valores nos quais eu realmente acreditava; em 2015 precisei cortar um pouco da própria carne e buscar o desenvolvimento que por tanto anos adiei.

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