Fazia muito tempo que eu não publicava nada aqui. Cerca de meio ano, talvez o mais longo hiato do blog. Como já comentei antes, um pouco por preguiça de comentar e muito por falta de tempo. Resolvi dedicar o ano aos estudos e, desde fevereiro, mal tenho tido tempo para ficar de bobeira. Hoje, por exemplo, é feriado aqui no estado de São Paulo, mas pedi para trabalhar como num plantão para receber dois dias de folga como recompensa posterior.
Essa correria toda começou, ironicamente, em minhas férias. Aproveitei os dias livres em fevereiro para pesquisar uma pós-graduação e a encontrei perto de casa, na Fundação Getúlio Vargas. Comecei uma pós em Administração de empresas, um meio para formalizar e aprofundar o que aprendi trabalhando por tantos anos na IBM. Desde o fim de março tenho aulas em sábados mais ou menos alternados ("mais ou menos" porque às vezes há intervalos maiores devido a feriados prolongados). É algo desgastante, principalmente devido à minha falta vitalícia de disciplina e distância de alguns anos de qualquer estudo mais formal, além de que precisei abrir mão da atividade como catequista nas tardes de sábado, mas já tem sido recompensador fazer contato com tanta gente interessante e expandir meus horizontes profissionais, mesmo que para vislumbrar um mundo além da Big Blue.
Além da pós na FGV, há também as aulas de russo, que também exigem mais conforme progrido. Além do conteúdo mais básico, já se foram cinco casos de declinação e os aspectos verbais: todo ato tem dois verbos, um para uma ação mais duradoura e outra breve, concluído, "fechado" (como "délat" e "sdélat", respectivamente). Até que é bastante coisa, mas confesso que houve um período em que me desanimei com meu progresso, porém percebi que esta desmotivação fora causada por uma percepção enganosa que eu tinha. Antes de estudar esta língua eu havia feito aulas de espanhol, idioma muito mais próximo do português e com formas muito mais abrangentes de estudo. Logo nos primeiros meses de estudo comecei a ver filmes, entrar em sites de notícias, avançava rapidamente pelos conteúdos e com cerca de dois anos de contato com o espanhol mudei de área no trabalho para atuar com mexicanos remotamente e gente de toda a América do Sul ao meu redor, o último passo necessário para alcançar a fluência no idioma. Hoje, com quase um ano de aulas de russo, ainda luto para formar algumas frases e o máximo que faço com alguma facilidade é assistir Peppa em russo. Tento ler notícias e estudar letras de músicas, mas ainda preciso comer muito feijão para ter algum sucesso aí.
E de tanto ficar sentado para trabalhar, ler e estudar o corpo começou com suas reclamações. Não através de dores ou qualquer outro problema, mas com aquela inquietação da energia que se acumula e não encontra por onde ser gasta. Constantemente batendo um dos calcanhares no chão e até roendo as unhas, algo que eu não fazia desde que ouvi um quase maternal "Não pode! É feio!", vi que era hora de levantar a bunda da cadeira e fazer alguma coisa. Havia as academias de musculação por perto, mas decidi exigir mais de mim mesmo duma forma que não me custasse tanto tempo e a opção que me pareceu mais adequada foi o cross fit. Já fazia algum tempo que eu ouvia falar desta nova forma de atividade física que combina bem musculação e atividades aeróbicas, então consultei alguns amigos que já o praticavam e, motivado por suas respostas e resultados, decidi dar uma chance a um box localizado próximo ao meu apartamento. Sobre isso, no entanto, posso dizer pouco porque me inscrevi recentemente e fiz apenas três aulas para aprender os fundamentos. Amanhã faço minha primeira aula de verdade e talvez escreva um post mais detalhado daqui alguns meses.
Assim meus dias vão se tornando mais cheios, mas de maneira mais produtiva. Chega de gastar tempo com distrações, jogos de computador, polêmicas que mal têm relevância fora das redes sociais ou qualquer outra bobagem similar. Vivi algumas fases de minha vida com delay. Durante meus 20-somethings tentei viver as experiências com relacionamentos que não tive na adolescência e agora, aos 30, luto para enriquecer meu currículo. Num processo também prolongado larguei aquele espírito de indignação adolescente contra a vida de cubículo, algo que se vê bem nas tirinhas do André Dahmer. Quando se deixa de olhar o próprio trabalho de maneira rasa é possível sim ver que ele significa algo não só para você e seus superiores imediatos, mas para a empresa, para seus clientes e para o mundo lá fora. A ambição de fazer algo significativo (ser escritor, no meu caso) também pode conviver pacificamente com um trabalho menos glamouroso ou pode se resumir a um hobby, como bem exposto neste texto ao qual cheguei através do amigo Maurício Vargas e que resume bem o que passei e como passei a pensar.
Desta forma, meio que sem perceber quando isso começou, creio que consegui definir meu futuro, contrariando assim o título do blog. São passos modestos, medidos com alguma cautela e cujas consequências poderei medir apenas a médio prazo, mas já são algo positivo. Talvez seja assim com quase todo mundo, mas eu não veja isso porque considere as pessoas ao meu redor como muito bem planejadas ou me considere muito menos estratégico do que elas. Duvido que todos os meus amigos adotem aquele papo de vencedorzão, com planos para os próximos dois, cinco, dez anos. Assim, com um improviso aqui e alguns ajustes ali, vou entrando nos trilhos e percorrendo meu caminho.
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