Carlos Itajubá avança pela zona intermediária do campo do Beira-Rio com a bola. Pelo canto do olho percebe o avanço de outro colorado à sua esquerda e lança a bola em profundidade. Bola e jogador se infiltram através da linha de zagueiros e se encontram na entrada da grande área e já se despedem: num efêmero instante Cláudio toca a bola com sua perna esquerda. Faz com que ela percorra o caminho mais improvável até a rede: passando rente ao pé de apoio de Balão, o goleiro gremista.
O terceiro gol do Inter, o terceiro do mineiro Carlos, sela a vitória no Gre-Nal, o (coincidentemente) terceiro e último clássico do ano. No primeiro o time vermelho havia sido goleado, neste mesmo estádio, quando as duas equipes disputavam partida da fase classificatória do Brasileiro - apenas o Grêmio se classificou à fase de mata-mata para ser eliminado pelo Cruzeiro nas quartas de final. O segundo confronto foi realizado no Estádio Olímpico, com vitória dos tricolores com um gol de Paulinho e outro do uruguaio Pablo Martínez. Embora muito desacreditado, o time do Guaíba reagiu, alcançou o resultado necessário para conquistar o título e interrompeu a momentânea soberania gremista de chegar ao sexto título consecutivo do torneio estadual.
O atacante vê a bola passar pela linha de cal e não interrompe sua corrida após a confirmação do gol. Passa pela linha de fundo, salta sobre as placas de publicidade e parece procurar algo. Vê o enxame de desgraçados da coreia, alguns jornalistas enrolados num novelo de cabos, dois gandulas abraçados e o orelhão. Os torcedores o veem correr até o aparelho telefônico e alguns riem da forma inusitada de comemorar o gol. Carlos se esconde sob a cabine, cola a cabeça ao telefone e ouve: conforme esperado, ele está tocando.
- Alô - atende o atleta.
- Carlos, tá tudo certo agora, tchê.
- Vocês vão soltar minha mãe?
- Claro, vamos.
- Tá legal.
- Carlos!
- O quê?
- Obrigado... e desculpa.
Ali |
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