Obrigado pelo convite a este
almoço. Aliás, o agradecimento vai além convite e se estende à compreensão pelo abuso da hospitalidade: apareci meio sem avisar, tomei a liberdade de abrir os armários e belisquei uns petiscos antes da refeição principal. Mas tudo bem, né?
Você tentou se justificar, mas não
era preciso. A escolha do tradicional e italianíssimo espaguete pode
te parecer demasiadamente simples, mas meu paladar não é dado a invenções e
aventuras – cri que o fosse, mas é do homem se deixar levar por sua curiosidade.
E, de certa forma, há alguma diversão em brincar com esse enrolado e imprevisível
novelo comestível, mesmo quando ele nos parece indomável.
Enquanto falamos do prato principal,
te lembro de algo: eu havia antecipado o quão desajeitado sou, é verdade, mas não
esperava desperdiçar parte do molho de tomate com gotas espalhadas sobre a
toalha de mesa. A propósito, este toque apimentado era pimenta calabresa ou ciúmes?
Enfim, isto não vem ao caso, mais importante do que seu ingrediente secreto foi
o ponto de equilíbrio alcançado com precisão. E peço a toalha emprestada para
que eu a devolva limpa, como nova – ou realmente substituída por outra nova,
caso esta já esteja muito manchada.
Sobre o vinho, acertei na
escolha? Tomei o cuidado de não exagerar com uma agressão ao seu paladar e não
dar-lhe sono com um chazinho insípido. Inclusive recomendo que fique com o
finalzinho dele, assim caso o sabor dele seja marcante, será fácil encontra-lo
novamente.
E a sobremesa? Formidável! Delicada
e ao mesmo tempo de sabor sutilmente insinuante, sua composição foi inesquecível
– e o azedinho do maracujá harmonizou perfeitamente com o gosto do meu
arrependimento.
Mais do que para deixar um agradecimento, uso a oportunidade para pedir um favor: da próxima vez, posso preparar um almoço como forma de retribuição?
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