Terminei de ler neste sábado o livro Como vencer um debate sem precisar ter razão, do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, recomendação da amiga Maju. É uma leitura relativamente fácil, pelo menos é mais simples de se ler do que o extenso, porém muito bem escrito (e necessário) prefácio de Olavo de Carvalho. O título do livro é auto-explicativo: Schopenhauer escreveu um guia com trinta e oito artifícios para se vencer um debate ou ao menos identificá-los e impedir o uso de algumas táticas de argumentação pouco honestas.
A própria obra de Schopenhauer e a defesa que o autor faz da mesma parecem se basear numa leitura tendenciosa (digo "tendenciosa" pois não estou certo se foi uma falha de compreensão) dos escritos de Aristóteles sobre a dialética. Arthur escreve que esta ciência foi definida pelo pensador grego como uma forma branda de vencer debates, mas a dialética é a troca de ideias em busca da verdade enquanto a erística, o verdadeiro tema de Schopenhauer, é apenas uma maneira de vencer debates, tendo-se ou não razão, por meios lícitos ou não. O alemão a chama de "dialética erística", porém essa definição é incoerente por serem a natureza das duas práticas conflitantes: em uma se busca a verdade e na outra impõe-se uma visão, mesmo que incorreta, através de ardis. Parece-me, então, que Arthur associa seu trabalho ao de Aristóteles e diz lapidá-lo, por objetivo que desconheço (talvez como promoção pessoal e forma de vencer seu rival Hegel?)
Entre os trinta e oito estratagemas descritos há alguns de uso muito comum, como a ampliação indevida, em que um argumento é aumentado e, extrapolados seus limites, o debatedor pode refuta-lo com mais facilidade - mesmo erroneamente. Por exemplo: A diz que um certo modelo de carro é muito rápido e B responde que ele não é tão espaçoso e nem tão barato, então A tem que corrigir seu adversário com um lembrete de que comentou apenas sobre a velocidade do veículo. Outro mecanismo são os argumenta ad hominem, em que se busca alguma contradição da fala dum debatedor com alguma posição política, filosófica ou conduta anterior. O exemplo do cidadão que se queixa de Berlim e ouve como resposta um "Por que você não vai embora na primeira diligiência?" pode ser lido e ouvido sem ser necessário muito esforço para encontrar alguma discussão em que este argumento seja empregado.
Estes dois exemplos foram mais simples e são práticas corriqueiras, porém há alguns mais contundentes - e ainda menos honestos, como a provocação para encolerizar o adversário, falsa proclamação de vitória após obter vantagem parcial num debate ou a manipulação semântica: através da escolha de certas palavras, pode-se criar uma imagem positiva ou negativa sobre algo. Nas palavras do próprio autor: "O que um chama 'manter uma pessoa em segurança' ou 'colocá-la sob custódia', seu adversário chama 'encarcerá-la'. Um orador delata com frequência sua intenção pelos nomes que dá às coisas". Outro dia fiz um post sobre progressitas, creio que esse grupo seja um grande exemplo prático de uso desse estratagema.
Concluindo, creio que a erística funciona bem como mecanismo de defesa perante debatedores ardilosos. Como o próprio Schopenhauer indica, alguns desses trinta e oito estratagemas exigem descaramento para serem utilizados - declarar-se vitorioso dum debate antes que a discussão possa ser desenvolvida é usar uma bomba atômica argumentativa. Recomendo então o livro, mas mais como um guia para desarmar adversários que procuram vias pouco sinceras de convencimento para vencerem seus debates.
Arthur Schopenhauer |