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Thursday, August 30, 2012

Orkutizadores

Desde o grande êxodo de usuários do Orkut para o Facebook o termo "orkutização" tornou-se popular entre internautas brasileiros e, usado de forma pejorativa, explica tudo de desagradável, reprovável e constrangedor que surge nas redes sociais e até fora delas: desde o rapaz de origem humilde que joga na rede uma foto sua com seu carro antigo "tunado" até uma ativista do Femen que destoa um pouco na boa aparência de suas colegas de protesto, todos são acusados de orkutizarem o Twitter, o Facebook, o 9Gag, o Femen, os ônibus circulares, os pontos turísticos... enfim, "orkutização" seria equivalente ao "baiano" usado em São Paulo para descrever o que é estéticamente desagradável.

Mas, de tanto ser utilizado de maneira indiscriminada (e discriminatória), é evidente que o termo perdeu seu sentido e ironicamente começou a ser usado até por quem serviria bem como alvo. Seguem então cinco pontos para reflexão, algo para o usuário das redes pensar antes de apontar o dedo e o cursor do mouse na direção de alguém e soltar um acusador "olha a 'orkutização'!!!". Além desses cinco pontos, não se deve esquecer que uma rede é formada apenas por consequências e não por causas e que tudo que circula nela, de positivo e negativo, vem de seus integrantes - e não do Orkut, do ICQ, do mIRC ou de qualquer outra civilização online extinta.

Eu acredito em notícias falsas?
Sites como o Sensacionalista, O Bairrista e G17 fabricam notícias falsas com intenções humorísticas e é mais divertido ver as reações dos desavisados do que ler os textos de jornalismo fictício, porém há sempre aquele usuário que parece nunca aprender o truque mesmo quando o conteúdo é imensamente improvável. Como reconhecer: até hoje está enfurecido com os pais que decidiram batizar o filho de Facebookson.

Eu tento elevar o nível das publicações?
Aquela foto super irreverente da Gina Indelicada foi compartilhada algumas dezenas de vezes por meus amigos em menos de um dia. Algum tempo antes foi a vez do Mussum e suas diversas variações: Iron Maidis, Bon Jovis, Palmeiris. Paralelamente, as tirinhas de bichos que dizem "'Véi', na boa". E assim, sucessivamente, cada pequeno novo achado, por mais irrelevante que seja, precisa sofrer metástase até que ninguém mais aguente ver aquela imagem e sua infinidade de versões. Quem ajuda uma praga a se espalhar está realmente publicando material mais interessante do que alguém que esteja "orkutizando"?

Reclamaram de orkutização do Instagram, dispositivo de fotografar temakis e cupcakes

Já peguei algum vírus?
Algo semelhante às notícias falsas que citei acima, porém aqui a inocência vai ainda mais longe. Enquanto algumas notícias falsas são bem escritas e o conteúdo é até verossímil, há dezenas de usuários prontos para concorrer a sorteios de iPads de proveniência duvidosa, acrescentar o botão "Dislike" ao Facebook ou ver as fotos vazadas de alguma amadora nua. Resultado: inúmeras mensagens com spam e links suspeitos espalhados por toda a rede.

Costumo ostentar minha vida social?
"Nossa, olha o Fulano orkutizando, ele colocou foto bêbado com os amigos naquela baladinha as-que-ro-sa!!". A diferença entre a publicação de foto da festa dele e a sua é apenas de forma, porém o conteúdo é o mesmo. Espalhar fotos completamente embriagado de Heineken no pub do momento não é muito melhor do que fazer o mesmo naquela boate que começa a ficar decadente, é apenas uma versão mais cara da mesma brincadeira.

Sou ativista de teclado?
Uma maneira de demonstrar engajamento é a revolta virtual, seja com os governos, empresas, agências reguladoras, o consumismo e sistemas econômicos. Sem me alongar sobre os muitos discursos, mas parece que mais e mais causas são abraçadas fielmente e vejo sites como o Avaaz em luta por tantas bandeiras que parece um Groupon do ativismo online. Louváveis a defesa duma causa e a crença num ideal, porém só isso não basta - e, pior, há até aqueles casos de esperança cega em que se pede: "compartilhem isto até chegar à Dilma". Esperar que uma imagem de Facebook chegue até um suposto perfil fake atrás do qual a presidente da república se esconde e que este compartilhamento a faça desistir de Belo Monte não é otimismo, é uma demonstração de ingenuidade de fazer crianças corarem.

Aham, claro

4 comments:

  1. "...um Groupon do ativismo online" AEHUHAEUHAEUHAEUHAEHAUEHUAEUHAEUHAEUHAEUHAUEHAUEHUAHEHUAHAEUHAE MORRENDO

    Eu reclamei da ´´orkutização´´ até o momento em que percebi quão elitista era isso. Como se o modo que eu uso uma rede social tivesse que ser o correto, e o dos outros, não.

    Acho que o último item é o pior, sério. "1 milhão de compartilhamentos para pressioná-lo a declarar-se impedido" "Compartilhe até chegar na Dilma"
    - Claro, claro que sim.

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  2. Pois é, é bom a gente repensar umas atitudes. Algo que me levou a mudar essa forma até meio arrogante de ver os outros foi o Big Brother: eu achava uma perda de tempo como o pessoal ficava na frente da TV vendo algo que não acrescentava nada, mas eu mesmo passava horas na frente da televisão jogando videogame

    É a mesma coisa aqui: será que estamos usando tão bem as redes para podermos condenar os outros usuários? Mesmo que estivéssemos, teríamos mesmo esse direito?

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  3. Algumas coisas que deixam enojado, e elas vem da classe média e média-alta.

    i) Fotos no estádio, trajando a roupinha da moda e agindo como se estivesse na balada. Curiosamente, quem realmente é público de estádio, raramente faz isso e, quando o faz, tem uma foto na geral ou em algum lugar mais low profile, quase sem se notar que a foto é no estádio.

    ii) Fotos de pubs, heineken, almoços e jantas ... tirar foto de comida ou bebida é coisa que me irrita pelo ar indie que isso tem, é como se você precisasse mostrar que tem dinheiro e está se divertindo. Isso soa burro e artificial, ao menos pra mim, que quando estou no bar bebendo a última coisa que eu penso é em postar uma foto do lugar pra todo mundo ver.

    iii) Montagens de provocações de futebol. Essa eu deixo de seguir as atualizações na hora (as outras eu relevo se forem em doses pequenas). Isso é o ápice da babaquice humana. Deixei de seguir muito amigo por conta disso.

    iv) Mensagens edificantes e/ou políticas. Nem preciso comentar porque você já fez isso de maneira magistral.

    E tem mais um monte de comportamentos imbecis que se proliferam nas redes sociais (sejam quais forem, Instagram, Pinterest, Facebook ...). Por isso ainda gosto do Twitter (afinal, ali é bem menos propenso a todos esses comportamentos, ainda que os tenha também).

    Eu sou um velho amargo mesmo.

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  4. Tanto a foto do carinha com seu ESCORT tunado quanto a do magrão bêbado no iate são reflexos de um mesmo comportamento que valoriza excessivamente o ter e a ostentação. A diferença está nos dígitos da conta bancária.

    O problema, como eu já escrevi no FB, é o excesso. Se o cara quer mostrar as cornetas novas que comprou para o som do seu Escort, beleza. Se ele faz um álbum com 78 fotos de seu carro, atualizando cada 48 horas, daí já passou a barreira do sensato. O mesmo vale para o cara do iate, o crente, o ateu, o comunista, o conservador, o eco-chato... todos têm o direito de se manifestar e não vejo problema nenhum nisso, desde que seja com respeito e sensatez.

    Eu tento me comportar numa rede social do mesmo modo que na vida real. Excessos são irritantes tanto aqui dentro como lá fora, seja por parte do pobre quanto da classe média. A diferença é que na vida real as vezes não é tão fácil de se "bloquear" alguém, mas na internet isso é barbada.

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