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Thursday, August 4, 2011

O novo mate

Desde 2008, quando conheci Porto Alegre e fui instruído pelo amigo Froner, adquiri o hábito de tomar chimarrão. Nunca fui de consumi-lo com a mesma frequência e nem nas largas quantidades que são consumidas no RS: o consumo diário em repartições públicas tinha tamanha adesão que foi necessário proibir as cuias para que a produtividade não fosse tão prejudicada. Mesmo assim, a cada quatro ou cinco dias ou em intervalos muito maiores no verão eu me dava o trabalho de cevar um mate: colocava erva mate na na cuia, deixava-a no ângulo correto escorada na parede, despejava um pouco de água morna no mate para dar firmeza, depois jogava o restante da água e inseria a bomba (tudo explicado na prática e muito bem NESTE VÍDEO).

Tudo isto para depois a bomba entupir com pequenos fragmentos e eu demorar uma eternidade para tomar um litro da mistura, isso sem contar as vezes em que errava algo ou alguma erva mais fina simplesmente virava um mingau. Por isso, aos poucos, acabei por reduzir ainda mais a frequência das mateadas ao ponto de me preocupar com o prazo de validade dum pacote de erva que tinha em casa. Isso até ir a Buenos Aires e reparar nas pequenas cuias usadas pela rua - ali, assim como na capital gaúcha, há momentos em que é é bem mais fácil ver alguém tomando chimarrão do que fumando.

Cuia pequena, bomba e uma boa erva

Aquelas cuias tão pequenas, muitas vezes do tamanho dum punho fechado, com fundo reto e sem um bocal na parte superior não permitiriam todo o procedimento que se faz no Brasil. Enquanto a bomba daqui tem uma ponta arredondada e achatada, semelhante a um pequeno lequeou a uma "pá" de pizzaiolo, a que vi os hermanos usarem era muito menor, como uma ponta com medidas pouco maiores que as duma caneta Bic e entradas mais largas. Uma "bombilla" que trouxe, inclusive, nem arrisquei usar ainda por ser tão simples que seu filtro é apenar uma mola - através dos seus aneis passa a água quente que passou pela erva.

Foi na feira de San Telmo, então, que resolvi decifrar o mate argentino. Comprei uma cuia, uma bomba e conversei com a vendedora sobre a forma de preparo e não há mistério: despeja-se um pouco de erva, água quente (pouco abaixo do ponto de fervura), coloca-se a bomba... e bebe-se o mate. Só isso. Há, claro, as "invenções": o argentino tradicionalmente usa açúcar na mistura, o que é uma heresia para o gaúcho. Essa diferença é mais difundida enquanto há muitas que seriam mais adequadamente classificadas como manias pessoais: misturar ervas de mate e de chá, temperos de comida e até um exemplo extremo, de amendoim moído no fundo do recipiente. Para citar cuias improvisadas, vi um tatuador que a substituiu por um copo de vidro, um arranjo que não deu muito certo: a erva fica toda visível, inchada, úmida, amassada e com aspecto desagradável.

Enfim, desde que retornei tenho usado esse método novo para matear e confesso que, pelo menos tão cedo, não planejo voltar atrás. Ele é tão mais prático, econômico e eficiente que só o tradicionalismo e, principalmente, a manutenção do ritual de preparar o mate explicam como esta maneira de preparo não pegou por aqui. De qualquer forma, para quem gosta, vale a pena tentar preparar o mate assim pelo menos uma vez - desde que use erva moída grossa, claro.

Uma das bombas

3 comments:

  1. Sou um adepto do mate no estilo castelhano/uruguaio. Acho muito prático para se tomar sozinho e mesmo quando se tem pouco tempo. Sempre que vou 'para o outro lado' (como diria o Jayme Caetano Braun), faço um estoque farto deste tipo de erva. E como moldei meu paladar a seu gosto mais forte, tomo sem problemas, para o espanto de quem experienta.
    O curioso é que esse tipo de erva que se encontra nos mercados do Uruguay é, na grande maioria dos casos, produzida e embalada aqui no Brasil mesmo. Já encontrei uma erva parecida no Pão de Açúcar, um pacote vermelho, mas o gosto era muito ruim.
    Quanto essa tua nova bomba, nem tente tomar um mate com uma erva brasileira, ela irá entupir rapidamente.

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  2. Uma vez comprei uma erva "estilo uruguaio" da Barão de Cotegipe, de embalagem amarelona... e ficou MUITO forte, mas talvez usando pouco ela seja tolerável. E vou tomar cuidado com a bomba, talvez eu consiga arrumar uma daquelas pequenas, mas com uma "bolinha" na ponta

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  3. [2]
    Nunca curti aqueles cuias engendradas que usam em Porto Alegre usualmente. Aqui na minha casa só quando vem visita para se ter aquilo na roda de chimarrão. Eu mesmo compro uma erva no mercado publico de poa, muito forte e boa (mais grossa) vendida em balaios. Ótima para quem gosta de matear solitariamente (minha família tem mania de usar ervas ruins/baratas e/ou com chás no meio).

    Isso me lembra que precisa comprar um bomba nova =)

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