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Thursday, August 18, 2011

Idiossincrasias

Vez ou outra ouço quem diga que gosta de ir ao estádio pois esta seria uma fuga da rotina do dia a dia. De fato, os jogs acontecem numa frequência muito menor do que, por exemplo, aulas ou expedientes. Além disso, há o fator do inusitado no esporte: ninguém sabe como e quão boa será uma partida, nem quem será vencedor com quantos gols (nem quem manipula resultados tem certeza disso). Porém, toda a combinações de rituais, costumes, pequenos gestos inerentes ao grupo - a tal idiossincrasia do título é isso, caso tenha te faltado o significado -  e até superstições fazem com que a vida do frequentador de canchas tenha apenas uma segunda rotina, mas apenas sabática.

Antes de sair de casa, já é possível cair no feitiço do tempo com aquela peça de roupa da sorte. Serve como amuleto uma camisa antiga do time, uma roupa íntima de certa cor, radinho de pilha, alguma corrente ou tudo isso junto - já que a sorte só pode vir desta combinação, defende algum marmanjo com convicção de fazer rir qualquer leitora fiel de horóscopo.

Depois de devidamente equipado, sai de casa para ir ao campo. Pode pegar o carro para ir e dar carona a algum amigo, ir sozinho ou até ir a pé, sempre respeitando o mesmo trajeto. Ao chegar ao local do jogo, é possível tomar uma(s) cerveja(s) antes da partida. A mesma marca de sempre. Com os amigos de sempre. Comprada no mesmo isopor de sempre.

Quando não há mais tempo para beber, a torcida entra e cada subgrupo vai tomando seu respectivo lugar. Corneteiros, torcedores organizados, senhores com radinho, marias-hooligans, cinegrafistas amadores com seus celulares, turistas, crianças que parecem ter entrado sozinhas... em cada estádio do Brasil (exceto na Arena da Baixada) estes conjuntos respeitam uma disposição mais ou menos semelhante à de uma orquestra, com suas divisões de instrumentos equilibradas mesmo aparentemente sendo tão dissonantes.

A bola começa a rolar e, é claro, os observadores comentam o jogo com seu colega ao lado. Como disse acima, há majoritariamente bolsões criados involuntariamente por afinidade de ideias, então não há muita discussão quando se exalta um jogador mesmo após um passe errado ou se, vinte metros ao lado, alguém xinga toda a família do lateral que apenas cruzou uma bola nas mãos do goleiro adversário. Aliás, os elogios até variam já que uma jogada criativa e insinuante é inesperada, porém as críticas, principalmente aquelas proporcionadas por limitações técnicas, são tão batidas que até um leitor deste post pode cornetar caso vá a um estádio pela primeira vez na sua vida.

"Como que um jogador profissional erra essa jogada??", não se conforma alguém que, desconfio, não deve ser o funcionário do mês da sua empresa ou divisão. "Eles ganham uma fortuna e não dão o sangue!!", diz o incrédulo que não aceita que uma bola saia pela lateral numa velocidade superior à de Usain Bolt sem um pique daquele lateral que já jogou por mais de uma hora. A minha favorita, no entanto, é aquela frase que acompanha cobranças de escanteio do time adversário. "Quando é escanteio para nós, nunca dá certo. Quando é para eles, sempre sai gol", queixam-se jogadores de ambos os times - que também podem aplaudir juntos quando um zagueiro recuar alguma bola além de sua própria linha de fundo.

Uma curiosidade sobre o Moisés Lucarelli, estádio da Ponte: o alambrado que fica próximo à linha lateral, apesar da péssima visão do campo oferecida, é um ponto concorrido por aqueles que querem pressionar bandeirinhas, árbitros e jogadores adversários. Todos que ocupam este espaço se esforçam para manter uma boa posição e não irem para o fundo dos "macacos do alambrado", mas algo curioso acontece quando alguém perde um gol feito ou comete um erro grave na saída de bola: um grande números destes torcedores dá meia volta, xinga o jogador que causou a revolta e faz aquele gesto de revolta erguendo rapidamente a mão direita, espalmada, acima da cabeça. Tudo isso em fast forward para não perder o posto conquistado na grade.

Finalmente termina a partida. O torcedor sai e uma unanimidade paira sobre a massa: não importa o resultado da partida, sempre é preciso tomar cuidado com o time X, que vem depois de algumas rodadas. X pode ser um time na zona de rebaixamento que esboça uma reação, o líder do campeonato, aquele time que não quer mais nada na disputa - e que, por não ter obrigação, jogaria mais solto - ou até o time do clássico regional, mas participar de qualquer campeonato é um extenso período em que todo e qualquer adversário pode virar uma ameaça letal.

1 comment:

  1. auahuahuahuahuah realmente todos os jogos são assim e mesmo assim todo jogo estamos la com os mesmos gestos e comentários né hahahaha.
    Não se esqueça tb do que comento contigo, quando a fase é boa QUASE que qualquer jogador pode chutar fora da área que é aplaudido, mas se o mesmo lance ocorrer com o time perdendo e já no 2o tempo a torcida cai matando.
    mas com certeza próximo jogo estaremos lá com as mesmas manias ahhaahaha.

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