A noite de ontem foi marcada por um evento "inusitado": o casamento da minha amiga Daiane Parno, colega de faculdade desde os primeiros dias após os trotes. A turma não era exatamente a mesma criada ao acaso pelo professor Paulo Afonso, alguns integrantes deste grupo começaram a andar com gente diferente ainda no decorrer do curso de Jornalismo, mas foi bom reencontrar o pessoal após estes quase dez anos do princípio da faculdade. O melhor de tudo foi ver que, no geral, o pessoal apenas confirmou o post do Guilherme "Amargo" Pilotti sobre algumas atitudes que tiram a credibilidade de qualquer pessoa que as faça após completar vinte e cinco anos.
No começo do texto disse que o casamento seria algo inusitado e explicarei porque: Daiane era a menina mais porra-louca daquela turma bem comportada. Todos ali viviam o deslumbre de conseguir pagar as primeiras muitas cervejas, as cabeças lotadas de idealismo não tinham muito espaço para tradições antigas (quem casaria se é bem mais fácil "juntar"?) e, entre uma desilusão e outra, minha colega não parecia ligar para a combinação véu e grinalda. Pois bem, alguns anos depois, após começar a trabalhar com televisão, mudar para São Paulo e morar com o até então namorado, veio o matrimônio numa bela igreja de Americana.
Além da noiva, outros também mostravam como o tempo age de maneira sutil: o socialista de beira de piscina, tão habituado à camiseta de Che Guevara, saiu do armário capitalista trajado duma camisa Lacoste. Cabelos longos hoje são cortados periodicamente, ao menos os fios que restaram. As calças jeans esfarrapadas e chinelos só combinam em casa - mas a temporária juventude dos jornalistas ainda não permite olhar fotos da época de estudos e dizer "como que eu saía ASSIM de casa?" entre risos.
Não só o figurino foi alterado, a bebedeira também foi gradualmente deixada de lado com o passar dos anos - e não só por este que vos escreve, autor da façanha de deixar duas garrafas long neck passarem do prazo de validade. Lembrávamos como quaisquer cinco reais reunidos viravam algumas garrafas de Itaipava, a cerveja novidade da época. Ironicamente, as principais bebidas da festa foram servidas por um serviço de coquetéis. Entre um e outro vinho frisante, acabei tomando um drink de melancia, maracujá, manjericão e sake - e é muito bom, antes que me julguem!
Melhor do que Itaipava morna no chão da Padoca |
Há várias mudanças menores individuais e bem menos óbvias, mas não teria como saber de todas: não mantive contato com o pessoal e nem era tão próximo de toda a turma para conseguir fazer um "antes e depois" decente. Eu mesmo mudei no decorrer destes nove anos, mas não conseguiria apontar aqui todas as mudanças. Ficam agora as dúvidas: a forma como contestamos muito e questionamos tanto durante a juventude é nossa mesmo ou apenas um esteriótipo em que nos encaixamos? Com o passar dos anos a forma de exprimir insatisfação se altera e passa de barulho e conflito a acidez e sarcasmo, muito mais por necessidade de conviver em grupo pacificamente do que por desenvolvimento da capacidade da pessoa de se exprimir. No entanto, será que não faria bem trazer um pouco disto para a vida adulta? Sim, é preciso pagar contas e alguns sapos precisam ser engolidos, mas ter um brejo nas entranhas não pode sempre ser mais vantajoso do que alcançar uma pequena conquista, mesmo que para gente que irá apenas usufruir deste embate muito depois dele acontecer.
Tinha esquecido qual era o endereço do seu blog, que bom que colocou no Facebook. E concordo que alguns drinks decentes são melhores que Itaipavas mornas daquela época, porém era deveras divertido...
ReplyDeleteJá se passaram mais de dois anos e chego hoje a esse post - por circunstâncias que não vêm ao caso - e bate uma saudade tanto da 'porra-louquisse' quanto do casamento. Eu fico lembrando, às vzs, das discussões da faculdade, das teorias, da prepotência universitária e chego a conclusão de que quando a gente é jovem pensa que sabe demais e, no fundo, não sabe nada. E hoje, mais velha, vejo que quando nos tornamos adultos temos a certeza que sabemos muito, mas no fundo, sabemos menos ainda. Confesso que dentro daquela adolescente porra-louca, que matava aula pra ir sozinha no buteco, sempre existiu o desejo de ter uma carreira, encontrar alguém e formar uma família, talvez por isso a negação fosse tão necessária. Hoje, casada, com uma vida estável, ainda dou espaço, mesmo que pequeno, para a velha porra-louca que agora adora uma cerveja importada - e viva a classe C! - liga o som em casa e continua a beber sozinha...dançando no quarto. O que me faz crer que o tempo passa, adquirimos conhecimento, experiências - boas e ruins -, nos adequamos a certos padrões antes tão desprezado, tomamos drinks no lugar de cerveja quente, mas a nossa essência - que eu não sei exatamente explicar o que é, mas entendo como algo que fica ali, no coração - nunca muda. Quem sabe? talvez daqui mais dez anos eu mude de opinião.
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