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Thursday, March 10, 2011

Vencendo(?)

Charlie Sheen foi o principal personagem hollywoodiano do ano - e duvido que seja superado no resto do ano. O ator, famoso por estrelar os filmes Platoon e Top Gang, além da série Two and a Half Men, concedeu uma entrevista à CBS em que expôs suas festas, seu vício por drogas e sua vida sexual agitada. Nada disso surpreenderia muito, já que o ator sempre foi um renomado mulherengo e havia rumores sobre dependência química - esta entrevista, aliás, foi dada pouco depois que Carlos Estevez (seu nome real) foi internado alegando fortes dores estomacais, embora vários fãs tenham pensado automaticamente em overdose. Porém, o impacto e o mal estar causados pelas revelações do astro são da mesma natureza do caso Wikilealks: por mais que se acredite e se comente um boato, a transformação de buchicho em fatos ainda assusta.

As consequências dessa torrente de honestidade foram imediatas: o restante da oitava temporada da série foi cancelada, ele foi demitido e Charlie chegou a perder a guarda dos filhos, mas já chegou a um acordo com a mãe deles. Além disso, virou fenômeno na Internet com sua conta do Twitter: reuniu mais de dois milhões de seguidores em menos de um mês e transformou a hashtag "Winning" em meme. Virou ídolo, não sei se pela extensa lista de mulheres que já conquistou ou se é por encarnar o "rockstar", esse personagem mítico que esteva ausente dos holofotes por anos (ainda restam alguns Keith Richards, inclusive o próprio, mas estes acabam sendo endeusados e rapidamente trocados por novos ídolos). Prefiro acreditar que Sheen chegou ao trono da idolatria neste momento por ter criado rachaduras no status quo da indústria do espetáculo.

A indiferença do capacete do personagem foi muito menor que a do ator

Assim como Ricky Gervais, ator inglês que apresentou o Globo de Ouro deste ano e foi banido das edições vindouras por tecer comentários inconvenientes, Charlie Sheen causa incômodo pois bagunça com a perfeição artifical de Hollywood. Atores e atrizes podem ter seus lapsos, exagerar em um ou outro momento (desde que consigam justificar o deslize), mas ter um vício e viver muito bem com ele? Ter suas aventuras expostas e espalhadas aos quatro ventos? Tudo isso foge do protocolo: assim como os filmes, a vida de esbórnia e luxúria do panteão do cinema também precisa ser ensaiada,  bem produzida e produzida por uma equipe de ponta.

Charlie tornou-se, de acordo com sua própria definição, um "vencedor desempregado". Perdeu o emprego, perdeu os filhos, perdeu uma imagem até então só alvejada por fofocas, perdeu oportunidades que viriam... muitas perdas para um autoproclamado vencedor. No entanto, um astro iconoclasta que faz da própria destruição seu palco de triunfo é uma personalidade notável e digna de atenção até que os próximos eventos se desenrolem.

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