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Friday, January 2, 2015

Cinco livros - 2014

Atendendo à sede da massa de leitores que enviou um total de hum (01) pedido, farei também uma lista com minhas cinco leituras preferidas de 2014. Foi mais fácil escolher os cinco títulos literários porque mais assisti do que li histórias em 2014, mas reparei que era sim possível ter lido mais no ano que passou - sessenta a trinta e poucas leituras, aí contando até uma encíclica papal (Rerum Novarum, aquela em que se mostra que não é preciso ser socialista para se preocupar com condições do proletariado). Talvez seja o caso de me impôr um número mínimo no ano para que eu perca menos tempo lendo o feed do Facebook.

As Barbas do Imperador - Lilia Schwarcz


Conforme dito na versão digital disponível neste link, o "misto de ensaio interpretativo e biografia" é um riquíssimo retrato de quem foi Dom Pedro II e, de igual importância, como era o Brasil Império. Lilia conta sobre Dom Pedro I, sobre o nascimento de seu filho e de todos os episódios até o golpe da proclamação da República: os anos da infância em que já era tutelado para governar o Império, o casamento arranjado, seu estabelecimento como líder, a Guerra do Paraguai, seus anos mais tardios quando já se demonstrava cansado de uma vida toda dedicada a seu cargo e o exílio na Europa. Também narra-se como se davam as relações da nobreza, as festas populares e a vida na corte.

Recomendo o livro muito pelas suas qualidades e pelo espetacular trabalho de Lilia, mas principalmente pelo grande brasileiro que foi Dom Pedro II, "Defensor Perpétuo" do Brasil. Em períodos em que somos governados por políticos corruptos, desonestos, incompetentes, oportunistas, baixos e pusilânimes - sejam eles de qualquer partido que se pensar - é alentador pensar que já tivemos um estadista da grandeza de Pedro II.

A Leste do Éden - John Steinbeck


Mais conhecidos por As Vinhas da Ira (que, se não me engano, terá uma nova versão cinematográfica), Steinbeck escreve mais uma vez sobre a Califórnia, mais especificamente sobre o Vale de Salinas, uma região predominantemente rural do estado. Neste vale destacam-se duas famílias, os Trasks e os Hamiltons, cujos integrantes se envolvem em episódios cujos temas passeiam por temas como amor, liberdade, trabalho, depravação, incapacidade de adaptação ao meio em que se vive e, claro, inveja - muitos elementos do livro são referências direta ao livro bíblico de Gênesis, como insinua o título. Além da brilhante narrativa e da forma especial de Steinbeck de entender e explicar o ser humano, destaco um ponto adicional: Lee, um personagem simplesmente cativante e que desperta nossa curiosidade, embora seja apenas um coadjuvante na história - esta considerada pelo próprio escritor como sua obra prima.

A Indústria do Holocausto - Norman Finkelstein


Norman Finkelstein, americano filho de judeus poloneses, discorre sobre a forma como o Holocausto - outrora um acontecimento que desejavam que se tornasse esquecido e posto no passado da comunidade judaica - passou a ser usado como artifício ideológico para obter imunidade e até condição de vítima perante a comunidade internacional e legitimar os excessos cometidos pelo estado de Israel, uma potência militar e tecnológica. Outro uso rasteiro que se faz é a exploração de países como Alemanha e Suíça (pois aí estaria dinheiro deixado pelos nazistas) feita por ONG's que não repassam seus ganhas a sobreviventes dos campos de concentração e indivíduos que não tiveram ligação nenhuma com a perseguição feita aos judeus.

Obviamente, Finkelstein tornou-se um pária entre seu povo. Ele não segue uma linha revisionista ou até negacionista, como alguns outros autores que, por exemplo, contestam os números de vítimas judias durantes a Segunda Guerra Mundial. Sua severa crítica, porém, é direcionada apenas a personagens que parasitam a catástrofe alheia e, consequentemente, alimentam sentimentos antissemitas.

O Velho e o Mar - Ernest Hemingway


Eu já havia lido outros romances de Hemingway antes, mas nenhum havia me prendido como este. Não que eu os achasse ruins, eu apenas não conseguia me entusiasmar como imaginava que me entusiasmaria com o trabalho do escritor americano. O velho e o mar, no entanto, foi uma surpresa: abri seu arquivo no Kindle apenas para conferir se ele era muito longo ou não (não dá para realmente saber disso até que se abra o arquivo) e li tudo num golpe só. É pouca coisa, é verdade, leva-se pouco mais de uma hora para terminar, mas foi o tamanho ideal para contar a história do pescador Santiago.

O pescador atravessa uma maré de azar que já se aproxima de seu nonagésimo dia quando, por sorte ou azar, fisga o que presume ser um marlim. É difícil determinar exatamente qual é o peixe, mas sua grandeza se torna óbvia quando ele arrasta o barquinho de Santiago consigo até o alto-mar. Durante o restante do livro acompanhamos a luta de dias do pescador contra o peixe, o mar, o sol, as dores e a velhice. "Poxa, mas é só isso, o homem só fica lá pescando?", podemos indagar. Não, é muito mais: é uma história sobre resignação, dignidade e resiliência.

The Age of Faith - Ariel e Will Durant


No começo do post comentei que li menos livros do que eu gostaria neste ano, mas eu havia me esquecido que graças ao casal da imagem acima li cerca de mil e cem páginas sobre a forma como o judaísmo, o islamismo e o cristianismo ajudaram a construir a Europa e o Oriente Médio durante os séculos da Idade Média - injustamente tratada como "Idade das Trevas", como se os continentes sofressem um apagão com a decadência de Roma e acordassem prontos para a Renascença. Por mais impressionante que a obra pareça por sua extensão, The Age of Faith é apenas o quarto volume duma série de onze livros chamada The Story of Civilization, um estudo minucioso que parte da fundação das primeiras civilizações que conhecemos e termina nos anos em que Napoleão foi derrotado em solo russo. TAOF me cativou não apenas pela variedade assombrosa de dados e informações, mas também por sua abrangência e pela forma como Will e Ariel souberam integrar acontecimentos que pareciam correr paralelamente.

2 comments:

  1. Agradecemos infinitamente!

    ass: massa de leitores ;)

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  2. Vim aqui só para manifestar a inveja de quem arruma tempo (ou seja, organiza-se) para ler tanto assim.

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comentários

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