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Wednesday, February 6, 2013

As prima (sic)

Muita gente sabe da minha origem de Presidente Prudente e não de Campinas, da minha formação como jornalista, da mudança de área de atuação profissional e da minha torcida pela Ponte. Algumas pessoas sabem dos mais de dez anos por mim passados na mesma escola antes de iniciar o ensino superior e das minhas quatro tatuagens. Porém, realmente poucas pessoas sabem do meu abandonado sonho de fazer parte da Polícia Militar de São Paulo, do meu "jejum" de nunca ter segurado um bebê em minhas mãos e, principalmente, não sabem que moro próximo a um conhecido ponto de prostituição da cidade.

Chamadas de muitos nomes, inclusive de "mulheres de vida fácil" mesmo por outras mulheres não tão dispostas a percorrer este mesmo caminho de suposta facilidade, "as prima" (sim, com erro de concordância) trabalham em casas especializadas, em uma ou outra esquina e sabe-se lá em quantos apartamentos espalhados pelo Cambuí - para ficar em apenas um bairro. Quando conferi o apartamento onde moro atualmente sabia do vizinho Red Lion e das consequências possíveis, como constrangimentos ao receber visitas ou o caos que imaginei tomar a rua durante a noite, mas mesmo assim vim morar aqui focado nos pontos positivos.

Pois bem. Após me mudar para a região descobri que além do Red Lion havia algumas moças "free lancers" na esquina oposta, na mureta da rua Guilherme da Silva: a mesma mureta do antigo estádio da Ponte Preta pode ser tombada como patrimônio cultural da cidade, mas por enquanto ela serve apenas como vitrine noturna. Estas mulheres, no entanto, se mostraram até bem discretas: não usavam roupas tão ousadas, não agiam de maneira escandalosa e não atraíam problemas.


A tal da mureta
Até hoje não vi nenhuma discussão, briga, agressão ou qualquer incidente entre elas ou relacionado a clientes. Como a atividade delas exige uma boa dose de discrição, seria prejudicial para elas mesmas e para a clientela se ocorresse algo de chamativo. Assim elas passam as horas, entre gargalhadas, uso de maconha e leitura . Sim, leitura, uma vez passei por elas para ir a um bar próximo e vi duas moças buscarem o melhor ângulo sob a lâmpada dum poste para poderem ler seus livros. Há sempre viaturas da PM por perto e inclusive os soldados esporadicamente fazem aquela habitual parada para bater papo com o pessoal do Red Lion. Pondo-se isso tudo na balança, as moças podem causar um certo constrangimento aos moradores da área, mas trazem também movimento constante e segurança - uma relação simbiótica entre as garotas de programa e os moradores.

A propósito, os habitantes diurnos do bairro merecem um espaço aqui. Geralmente incomodados pelas vizinhas noturnas, chegaram a se organizar num movimento e solicitaram à prefeitura que o Red Lion fosse fechado. Evidentemente o bar continua aberto e suas mulheres-satélite ainda fazem ponto na mureta, porém vez ou outra ouço falar de novos abaixo-assinados organizados na vizinhança para que o pub seja lacrado.

Ainda sobre os moradores, um caso dum vizinho de outro prédio, amigo do meu pai, ilustra muito bem as posturas de quem observa estas sereias do submundo. João, chamemo-lo assim, soube que eu era seu vizinho e me deu as boas vindas à vizinhança. "Já foi ao Red Lion? Você tem que ver a mulherada que trabalha lá!", recomendou ele com uma gargalhada. Logo em seguida prosseguiu: "Mas e aquelas sem-vergonhas que ficam ali na rua? Caramba, que absurdo aquilo!". São as mesmas profissionais dispostas a executar as mesmas funções, porém algumas ele pode visitar sem ser visto e as outras, não.

Se há demanda por algum produto, haverá alguém que o ofereça - e é por isso que a chamada profissão mais antiga do mundo está tão viva quanto o cloud computing. É tragicômica a forma como homens já de cabelos brancos passam pela rua como crianças arteiras pegas no flagra e mulheres prestes a alugar seus corpos a estranhos evitam a todo custo chamar a atenção sob o risco de perderem o local de trabalho. E assim segue por tempo indeterminado o grande teatro em que todos participam e ninguém assume sua participação como parte do elenco.

Meramente ilustrativo (não temos malabaristas por aqui)

4 comments:

  1. Obviamente sem querer desmerecer o restante do texto, mas o ponto alto, sem dúvida, foi a legenda da ilustração!

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  2. hehe Bom texto. Se há demanda haverá comercio, e não adianta querer lacrar as 'bocetxããs' sorry pelo termo não muito cordial. hehehe Mas isso serve para todos os assuntos de restrição em geral né não, Fuzil!?

    Achei interessante o que falou sobre a leitura... ser prostituta nem sempre é o mesmo que ser burra. Aliás, pra ganhar a vida "fácil" assim, elas até que são bem espertas, né não!?! Além de corajosas! Coraaaaaaaaaaaaagi!

    p.s: Porque o senhorito não está seguindo meu novo blog (agora sim oficial) ainda?

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    1. Não to seguindo pq não tinha botão pra seguir por lá hahahah Aliás, ali do lado tem o link, mas ainda tá indo pro seu blog do WP, tem o link do novo??

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  3. Bom texto Fuzil. Bom texto.

    Att,
    magrão de Igrejinha

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comentários

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