Outro dia descobri que motivei indiretamente o Paulo Guilherme a escrever algo pessoal em seu blog. Fiquei lisonjeado e decidi, como uma certa forma de retribuição, arriscar e escrever sobre algo que eu tenha posto atrás duma barreira: relacionamentos. Sim, houve posts quando comecei a namorar, sobre alguns momentos que passei com minha ex-namorada e algo breve sobre a separação, mas foram mais posts "meu querido diário" do que divagações mais detalhistas. De certa forma eu não escrevia pensando em preservar minha ex, mas no fundo eu sabia que apenas usava esse argumento como artifício para proteger a mim mesmo.
Enfim, avante. Ao meu redor vejo o emaranhado de relações iniciadas e interrompidas por meus amigos e conhecidos. Não importa se já se divorciaram, se apenas namoravam ou se simplesmente estavam envolvidos em algo passageiro (uma "pegada serelepe", como li através da sempre brilhante Lígia), mas o desânimo e até ceticismo quanto a um relacionamento para a vida toda parece se espalhar de maneira epidêmica. Não que desistam de conhecer gente nova, pelo contrário, até pode haver uma certa precipitação de quem testa todos os limites da premissa de que os opostos se atraem. É apenas uma questão da desconfiança, de preocupação maior em acariciar as cicatrizes antigas do que de estender as mãos para um novo alguém.
Falo por mim mesmo agora: tive um namoro com uma mulher que representava tudo que eu considerava ideal. Praticamente morava junto com essa companheira dos sonhos e já imaginávamos como seriam nossos filhos, porém hoje creio que toda essa proximidade prematura foi o que nos separou. Por mais paradoxal que pareça, não consegui administrar essa rotina precoce de casado e me transformei num coadjuvante do casal graças a meu afastamento afetivo. Em seguida tentei o extremo oposto: um relacionamento a distância com uma mulher completamente diferente dessa ex-namorada, porém essa tentativa falhou em bem menos tempo. Mais preocupado em tentar antecipar o motivo que levaria a uma discordância do que em aproveitar o novo relacionamento, pus tudo a perder numa discussão boba sobre como nossas personalidades eram discrepantes.
Se este fosse apenas meu caso, tudo bem, seria apenas um desajustado e o reparo seria mais fácil. No entanto, consulto meus amigos e não são poucos os que compartilham de minha descrença. Há os casados e casais de namorados que vivem bem juntos, são felizes e até geram filhos premeditadamente enquanto parte dos solteiros parece ter nadado além do ponto de arrebentação e agora percebem que não existe conto de fadas na vida real. Lembro duma noite em outubro do ano passado quando minha ex-namorada e ex-vizinha me ligou avisando que estava de mudança. O namoro já havia terminado, porém naquele momento eu sabia que algo que havia sido quebrado e jamais voltaria a ficar inteiro novamente - este foi meu momento de enfrentar a verdade. Talvez este desânimo coletivo seja um momento de choque com a realidade para esta minha geração pretensiosamente crente de que estava predestinada à grandiosidade. Pode ser também que o tal imediatismo da geração Y tenha feito com que hordas de jovens adultos se tornassem incapazes de apreciarem e cultivarem um relacionamento - ou mesmo de encara-lo como mais do que uma oportunidade de ter uma fonte de atenção e sexo sempre a tiracolo.
Por enquanto isto tudo pode ser trabalhado e ainda há tempo para tentativas e erros, independentemente de quantas novas decepções surjam. O que não consigo limpar do meu campo de visão, no entanto, é a inevitabilidade do envelhecimento. Enquanto se está nos vinte ou trinta e poucos anos ainda temos poder de barganha e conseguimos competir neste "mercado", mas confesso que entro em parafuso cada vez que visito algum bar e vejo senhores já em idade avançada em sessões de autoflagelação pública por tentarem a qualquer custo se passarem por jovens - e aí valem camisetas de marca, gastos desmesurados, companheiras mal saídas da adolescência e passinhos de dança que fazem brotar lágrimas de vergonha das testemunhas e vítimas. Meu temor é este então: se não me acertar com alguém em cerca de x ou y anos, me tornarei um ancião como estes que ronda o Cambuí, uma espécie de urubu afetivo?
Hay que envejecer, pero sin perder la dignidad jamás |
Fica aqui então um desafio a mim mesmo: se meu erro é me atentar demais às diferenças como aconteceu na segunda situação que citei e em outros casos menores, minha "lição de casa" é me ater às semelhanças e valoriza-las - ou, no máximo, procurar ver o colorido das diferenças. Já não podemos mais sonhar com príncipes e princesas e, sendo mais realista, talvez até aquela companhia ideal formada de imperfeições já não sirva mais após passar da teoria à prática do cotidiano, então que possamos aprender a ser mais como leitores e não como telespectadores afoitos - com paciência e perseverança e não armados com impulsividade.
Sem comentários.
ReplyDeleteTu sabe que sou sua fã number one!