O motivo de minha ida foi conhecer estes dois palcos do futebol mais frutífero da América do Sul. Um país de território minúsculo e com uma população de 3 milhões de habitantes, algo como uma Belo Horizonte espalhada por esse rincão pampeano conquistou duas Copas do Mundo, duas medalhas de ouro olímpicas e quinze edições da Copa América. Seus dois principais clubes não ficam para trás: o Manya tem cinco Libertadores e três Mundiais. Seu rival Bolso tem o mesmo número de glórias intercontinentais, mas venceu "apenas" três vezes a Libertadores, isso sem contar as dezenas de títulos menores como torneios de verão europeu, recopas e afins. Esse diminuto pedaço de terra impressiona pelas façanhas inacreditáveis realizadas com o modesto contingente disponível para realiza-las.
Enfim, às arquibancadas.
Nacional 1 x 1 Rampla Juniors
O Bolso entrou em campo para enfrentar um clube que se aproxima do rebaixamento, mas que lutou muito e arrancou um empate - embora eu não tenha certeza de que ele consiga se salvar. O estádio Gran Parque Central teve sua última reforma em 2005 e é uma cancha acanhada e que permite muita pressão de sua torcida, mas sua capacidade é de apenas 26 mil lugares. Traduzindo: em caso de jogos importantes, a partida não é disputada ali devido ao pouco espaço disponível e o caldeirão só serve para ocasiões de menor importância, como início ou jogos de alta criticidade da Libertadores e partidas de pouco apelo no Campeonato Uruguaio.
O pouco espaço não foi totalmente preenchido, mas o número de lugares ocupados era bom. Fiquei atrás do gol, no setor em que a barra do clube (La Banda del Parque) se acomoda e esta cabeceira parecia lotada, mas as laterais do campo tinham algumas clareiras. A torcida visitante, atrás do gol oposto, devia contar com cerca de cem torcedores e um acervo até rico de trapos. A decepção foi a falta de adesão do torcedor "comum" aos cantos da LBDP, nem mesmo de onde eu estava conseguia ouvir o pessoal ao redor cantar - em alguns momentos cheguei até a escutar os poucos hinchas visitantes mesmo sendo eles uma minoria tão ínfima.
Havia aquele entusiasmo após lances de perigo, uns minutos de combustão após o gol, mas apenas isso. Pior: na tentativa de levantar os ânimos, a banda trocava a música entoada a cada dois minutos, uma frequência meio alta para este formato de torcida - há barras que mantêm uma música de cinco a dez minutos, o que me causou estranheza quando presenciei isso pessoalmente pela primeira vez no Estádio Olímpico com a Geral do Grêmio, porém a Banda del Parque parecia um iPod pulando músicas em modo aleatório para tentar agradar aos muitos ouvintes presentes.
Wanderers 1 x 5 Peñarol
Por jogar de visitante o Peñarol usufrui do Estadio Centenário, porém ocupa setores diferentes: esta cabeceira da foto é a Colombes, oposta à habitual tribunal Amsterdam, setor de mesmo nome da principal barra aurinegra. O estádio, aliás, me surpreendeu de maneira positiva: apesar da grande capacidade, algo entre 65 e 75 mil lugares de acordo com sites que conferi, a visibilidade é muito boa e não há a impressão de se estar muito longe do campo. Apenas os lugares mais próximos não têm visibilidade total por serem muito baixos, mas no ingresso já há um aviso sobre isso.
Nesta partida o desempenho da torcida carbonera foi semelhante ao dos seus rivais: como o estádio é muito maior, havia muitos assentos vazios e os gritos da Barra Amsterdam não contagiaram o restante das arquibancadas. Apenas as músicas já referentes ao rival a ser enfrentado no dia 20 e com provocações ao Bolso causavam alguma reação, mas no geral a torcida se comportou de maneira apática na maior parte do tempo. Vantagem carbonera: os cantos não foram trocados com tanta frequência como no Gran Parque Central e a constância tornou a atmosfera mais agradável. Nota positiva para a torcida do Wanderers, presente em maior número que os torcedores do Rampla, com mais materiais, sinalizadores e instrumentos.
Uma curiosidade: o ex-atleta e capitão aurinegro Antonio Pacheco, doze anos de Peñarol, jogava no Wanderers e foi saudado inúmeras vezes pela torcida. Aplaudido em sua entrada em campo, viu bandeiras e um camisão em sua homenagem. Como a vitória foi definida com tranquilidade, os torcedores do Manya gritavam em homenagem a ele a cada cobrança de escanteio realizada por ele.
Atenuantes?
Nos minutos finais da goleada carbonera pensei nos possíveis fatores responsáveis pelos públicos aquém da expectativa e seus tímidos desempenhos. O ingresso é barato (mais ou menos 15 reais no primeiro jogo e 25 no segundo), os clubes atravessam bons momentos no torneio e as equipes apresentam bom futebol, então a proximidade dum jogo tão importante como o clássico da cidade seria a resposta para minha indagação. Há quem deixe de ir para economizar dinheiro ou por quaisquer outros motivos (superstição?) e essa talvez seria a causa do revés de público.
Setor em que eu estava, foto tirada do site do Nacional |
Aí me lembrei de que há um ano e alguns dias estive no Monumental de Nuñez e vi o River Plate jogar com casa lotada. Também uma rodada antes de enfrentar seu maior rival. O momento vivido, no entanto, era muito pior e o clube dava seus primeiros sinais de risco de rebaixamento - um mês depois a queda foi confirmada. O que vi, no entanto, foi um estádio pulsante e de torcida inflamada mesmo após a derrota em casa para o All Boys. Creio então que não estou sendo exigente demais com os uruguaios, a condição incontestável de colossos do futebol sul-americano proporciona a ambos essa distinção frente aos outros clubes e, consequentemente, a comparação se estende às torcidas. Claro, um jogo isolado não é amostragem suficiente para criar um veredito sobre massas de tantas e tantas almas, mas o paralelo entre grupos distintos em contextos semelhantes põe os orientais em desvantagem (pelo menos em comparação com os millonarios). Voltei um pouco decepecionado com as torcidas, mas feliz por pisar no concreto das arquibancadas desses templos do futebol latino.
Olá, Luiz.
ReplyDeleteEstou indo a Montevidéu em março e pretendo assistir a Nacional X Boca Juniors. Pelo que tenho visto pelos blogs que encontrei, comprar ingressos parece tarefa fácil na capital uruguaia... Muita gente comprando em agências lotéricas, inclusive.
Gostaria de saber sua opinião... se você acha que seria fácil comprar entradas para este jogo na ante-véspera da partida 9dia que chegarei lá).
Abs,
Fala, Leonardo! Obrigado pela visita!
DeleteQuando fui à capital uruguaia os ingressos do Nacional eram vendidos nas lotéricas (Abitab) e eram até baratos, paguei cerca de R$ 15,00 para ficar no setor popular do Parque, uma arquibancada atrás do gol. Como este jogo é contra o Boca, talvez até seja transferido para um estádio maior, mas consultei o site do Nacional e ainda não definiram o mando de campo.
De qualquer forma, creio que você consiga sim comprar o ingresso dois dias antes da partida. Não lembro muito bem deste detalhe, mas eles nem colocam os ingressos à venda com muita antecedência, inclusive saí para comprar um e ainda nem tinham começado as vendas. Boa viagem e bom jogo!