Hoje completam-se cinco anos de minha mudança para o apartamento, onde passei a morar sozinho e onde estou até hoje. Como esta mudança foi motivo para eu começar e manter este blog, o mais justo é fazer uma retrospectiva de todo este período, mais do que vivi e, em parte, do que escrevi. Essa transição começou ainda em 2009, mas só decolou com a virada do ano. Seria mais prático fazer a mudança durante o mês de janeiro de 2010, enquanto meu pai e minha irmã ainda negociavam a compra da casa onde moram hoje e escolhi o dia 25, aniversário de São Paulo e uma data da qual eu me lembraria facilmente. Aliás, agradeço aos dois por toda a ajuda durante esse período.
Os últimos dias anteriores à mudança foram de algum nervosismo: à época eu não tinha um emprego, receava me arrepender da mudança devido ao risco de ficar isolado e solitário, além de ser refém de meu próprio despreparo para questões domésticas - revisitei posts mais antigos e num deles cheguei a comemorar que aprendi a fazer macarrão, algo absolutamente vergonhoso para qualquer pessoa com mais de treze anos de idade.
Havia também a ansiedade pela parte mais positiva. Tornar-me-ia mais responsável e mais bem organizado, seria mais cauteloso com meu dinheiro, teria um harém de universitárias - todos objetivos mais ou menos realistas. E até que pude cumpri-los: aprendi o valor do protagonismo, da iniciativa, de tomar as rédeas de algo, do "ownership", por falta duma tradução exata desta palavra da qual tanto gosto; revi minhas conclusões e notei como já era moderado com as finanças, mas que a principal função dessa prudência deve ser justamente poder proporcionar momentos de generosidade e conforto.
Apenas a parte das muitas universitárias, surpreendentemente, não saiu como planejado. Logo em maio de 2010 já comecei um namoro - que teve duração de mais ou menos um ano - com minha vizinha de porta e, assim, entrei numa fase "balzaca", aproveitando o termo que dela aprendi. Foi o princípio dum rosário de relacionamentos com mulheres em seus trinta e alguns anos. Apesar da forma como falei deste período, eu o cito não pela quantidade de cúmplices, mas pela(s) qualidade(s) destas mulheres e pela forma como me influenciaram. Tive a felicidade de ter a meu lado pessoas fascinantes, divertidas, sensíveis e especiais, cada uma de sua forma. Caso tivesse o dom das artes plásticas, retrataria uma em aquarela, com traços mínimos e pinceladas frágeis, outra com as cores firmes e ar contemplativo imitando desavergonhadamente Edward Hopper, uma como o Fogo ou a Força em meio ao Vazio. E houve, sim, uma universitária: foi a inusitada presença duma moça segura de si, disposta a intrepidamente colorir e reavivar um cenário de cinzas. Sou muito grato pela convivência inesquecível com esta mulher, maravilhosa desde tão cedo.
Os últimos dias anteriores à mudança foram de algum nervosismo: à época eu não tinha um emprego, receava me arrepender da mudança devido ao risco de ficar isolado e solitário, além de ser refém de meu próprio despreparo para questões domésticas - revisitei posts mais antigos e num deles cheguei a comemorar que aprendi a fazer macarrão, algo absolutamente vergonhoso para qualquer pessoa com mais de treze anos de idade.
Desenvolvi minhas habilidades e um dia fiz um miojo parecido com o macarrão dessa foto aleatória |
Havia também a ansiedade pela parte mais positiva. Tornar-me-ia mais responsável e mais bem organizado, seria mais cauteloso com meu dinheiro, teria um harém de universitárias - todos objetivos mais ou menos realistas. E até que pude cumpri-los: aprendi o valor do protagonismo, da iniciativa, de tomar as rédeas de algo, do "ownership", por falta duma tradução exata desta palavra da qual tanto gosto; revi minhas conclusões e notei como já era moderado com as finanças, mas que a principal função dessa prudência deve ser justamente poder proporcionar momentos de generosidade e conforto.
Apenas a parte das muitas universitárias, surpreendentemente, não saiu como planejado. Logo em maio de 2010 já comecei um namoro - que teve duração de mais ou menos um ano - com minha vizinha de porta e, assim, entrei numa fase "balzaca", aproveitando o termo que dela aprendi. Foi o princípio dum rosário de relacionamentos com mulheres em seus trinta e alguns anos. Apesar da forma como falei deste período, eu o cito não pela quantidade de cúmplices, mas pela(s) qualidade(s) destas mulheres e pela forma como me influenciaram. Tive a felicidade de ter a meu lado pessoas fascinantes, divertidas, sensíveis e especiais, cada uma de sua forma. Caso tivesse o dom das artes plásticas, retrataria uma em aquarela, com traços mínimos e pinceladas frágeis, outra com as cores firmes e ar contemplativo imitando desavergonhadamente Edward Hopper, uma como o Fogo ou a Força em meio ao Vazio. E houve, sim, uma universitária: foi a inusitada presença duma moça segura de si, disposta a intrepidamente colorir e reavivar um cenário de cinzas. Sou muito grato pela convivência inesquecível com esta mulher, maravilhosa desde tão cedo.
Simulação da prosa com Givaldo e Zé |
Enfim, chega de me gabar. Depois da mudança houve, de fato, um baque por passar os dias sozinho e sem uma ocupação. Cheguei a ler O Cortiço em apenas uma investida, visitava uma lan house próxima de casa para cadastrar currículos e interagir com amigos através do Orkut. Às vezes passava algumas horas na portaria de meu prédio, a prosear com o Givaldo, porteiro petista e o Zé Peres, um tucano que supostamente conhece cada palmo, acontecimento e personagem da história de Campinas. Mas em junho de 2010 comecei a trabalhar na IBM (após participar sem sucesso dum outro processo seletivo que me levaria até a SAP, em São Leopoldo-RS) e fui reinserido na sociedade. E tive a sorte de cair num time de gente trabalhadora e amiga, com alguns integrantes que são pessoas importantes para mim até hoje. Mais tarde ganhei de presente da minha irmã a Bolacha, hamster que foi minha companheirinha por quase dois anos. Apesar das limitações causadas pela delicadeza de sua estrutura e por seu pouco tamanho, ela cumpriu bem seu papel de bicho de estimação. Agora que o analiso em retrospectiva, vejo como 2010 foi um ano agitado.
(Agora farei uma passagem rápida por vários eventos menores posteriores. Sugiro que se ouça um hard rock bem farofento para acompanhar a montagem, um expediente muito explorado nos filmes dos anos 80)
Então o que era novidade passou a se transformar em rotina e, aos poucos, surgiram preocupações maiores do que conseguir fazer arroz sem que ele terminasse como uma papa ou torrado. Aprendi a fazer compras menores e mais baratas, ao contrário da primeira, que mal coube nos poucos armários - que vieram a ser ampliados mais tarde. Constatei que realmente não preciso dum carro, ao menos vivendo onde vivo e trabalhando onde trabalho. Venci (parcialmente) a timidez quando precisei reclamar do barulho feito por vizinhos diferentes. Visitei Buenos Aires, comecei a estudar para valer o espanhol e devido ao idioma também mudei de área na empresa em que trabalho e fui promovido. Um ano depois visitei Montevidéu, cidade em que passei sufoco pela imprevista indisponibilidade de saques de dinheiro - mas me virei bem com o idioma e agora estudo russo. Errei com a logística desta viagem, como vim a errar outras vezes: no trabalho, no cuidado com a casa, em alguns relacionamentos. Alguns destes erros foram bem corrigidos, como quando demorei para corrigir um problema de vazamento em meu banheiro e a solução mais prática foi reformar todo o cômodo. Outros erros serviram pelo aprendizado que trouxeram (pelo menos consegui transforma-los em algo, ainda bem).
O aprendizado - e incluamos como parte dele o autoconhecimento - é o mote deste período de cinco anos, concluo. Era o que esperava, mas não imaginei que cresceria tanto em tão pouco tempo e de maneiras tão inusitadas, mesmo não estando exposto às condições mais inconvenientes. Viver sozinho é viver consigo mesmo, o que pode parecer óbvio e até mesmo redundante, mas é um desafio às vezes massacrante ter de encarar de frente uma insegurança, um medo ou um erro. E aí podemos nos esconder em distrações como redes sociais, smartphones, sair ou fazer o que for, mas uma hora será preciso deitar a cabeça no travesseiro, em meio à escuridão e ao silêncio. E depois de tantas experiências que puseram minhas convicções e eu mesmo a prova, aprendi bastante, mas principalmente que não podemos fugir de quem somos. Há espaço para evolução e mudanças, mas há um âmago que carregamos conosco e contra o qual não podemos lutar. Ou talvez seja só comigo, quem sou eu para dizer isso no plural, não é?
Créditos das pinturas nos links
Aquarela: Other Wrongs, de Agnes CecileAquela epifania que nos atropela durante o banho ao enquanto a água ferve na chaleira |
Créditos das pinturas nos links
Edward Hopper: Summer Evening, de Edward Hopper
O Fogo e a Força: Gone with the Wind, de Dima Dmitriev