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Tuesday, May 17, 2016

Tragédia(?)

Hoje de manhã, enquanto almoçava antes de sair para trabalhar, revi um trecho de Troia, o épico estrelado por Brad Pitt e Eric Bana – intérpretes do grego Aquiles e do troiano Heitor, respectivamente. A cena que tive tempo de ver foi a do confronto entre os dois guerreiros.

Heitor é, sem pestanejar, o homem mais munido de virtudes e qualidades em toda a guerra de Troia. É ótimo pai, bom marido, excelente filho e supremo como lutador. Batalhou arduamente pela preservação de sua cidade e de seu povo, embora a guerra fosse iniciada por uma molecagem de seu irmão mais novo. Lutava pela honra sem buscar recompensa.

Aquiles, seu rival, não possuía laços tão fortes. Sabemos de sua mãe, Tétis e de Pátroclo, seu primo nos filmes e grande amigo ou amante no livro, dependendo da interpretação. Não era obediente a reis e não respondia a ninguém no campo de batalha. Era ardiloso e oportunista; decidiu atravessar o mar Egeu para lutar apenas depois de perceber a possibilidade de obter fama e glória no maior embate de todos os tempos.

Pois bem, na cena que assisti enquanto eu almoçava, Aquiles foi às muralhas troianas para desafiar seu rival. Heitor despede-se de seu pai Príamo, de seu irmão Páris e de sua esposa Andrômaca antes de encontrar o grego para o combate. Ofereceu tanta resistência quanto pôde e foi ofensivo enquanto era possível, mas foi derrotado e teve seu corpo arrastado ao redor das muralhas de sua cidade natal perante os olhos das pessoas que amava. A soma de todas as virtudes do campeão troiano não serviu de absolutamente nada: não houve karma, justiça do universo, intervenção divina ou nada semelhante que tornasse sua espada mais rápida ou letal do que a de Aquiles.

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Quase três mil anos depois de Homero, é mais comum encontrar rapazes e homens chamados Heitor do que batizados de Aquiles. Pesam contra o troiano a derrota na luta e sua origem, já que os gregos influenciaram de forma consistente a civilização ocidental com cultura, literatura, arquitetura, filosofia, matemática, etc, etc. Apesar disso, seu nome se difundiu entre seus inimigos de outrora. Em algum ponto de nosso passado rejeitamos, de alguma forma, o que Aquiles representava ou em algum momento pusemos a bondade acima da agressividade?

P.s.: Comentei isto me baseando mais no filme de 2004 do que na Ilíada, de Homero. No livro Heitor não é tão bonzinho e é melhor lutador do que no cinema.


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